sábado, 13 de julho de 2024

Sobre a paz - por Santo Agostinho

Escribe San Agustín al inicio del capitulo 13 del libro XIX de La Ciudad de Dios: 

"Así, la paz del cuerpo es la ordenada complexión de sus partes; y la del alma irracional, la ordenada calma de sus apetencias. La paz del alma racional es la ordenada armonía entre el conocimiento y la acción, y la paz del cuerpo y del alma, la vida bien ordenada y la salud del animal. La paz entre el hombre mortal y Dios es la obediencia ordenada por la fe bajo la ley eterna. Y la paz de los hombres entre sí, su ordenada concordia. La paz de la casa es la ordenada concordia entre los que mandan y los que obedecen en ella, y la paz de la ciudad es la ordenada concordia entre los ciudadanos que gobiernan y los gobernados. La paz de la ciudad celestial es la unión ordenadísima y concordísima para gozar de Dios y mutuamente en Dios. Y la paz de todas las cosas, la tranquilidad del orden. Y el orden es la disposición que asigna a las cosas diferentes y a las iguales el lugar que les corresponde". 


 

A valentia neurótica



por Sidney Silveira

Nada mais distante da virtude da fortaleza que a valentia, entendida como mescla de jactância, audácia imprudente, falta de temor, presunção, ambição desmedida e vanglória. Em breves palavras, a valentia é uma espécie de sucumbência a pavorosos estados psíquicos, dos quais é quase impossível a pessoa sair depois de enredar-se neles. Como conformador da alma de todo ferrabrás, de todo bravateador, de todo rufião está o que alguns escolásticos chamavam de pusillo animo, ou seja, o espírito pusilânime. Trata-se, pois, de criaturazinhas de ânimo apoucado que se imaginam super-heróis a defenderem o bem, a verdade, a justiça e – valha-nos Deus! – até a religião.

Com grande acuidade, Santo Tomás de Aquino afirmava que a virtude da fortaleza tem dois movimentos principais: atacar moderadamente (moderate aggredi) e resistir (sustinere).[1] Ao contrário do valentão que tem por hábito perder-se numa barafunda de contendas, de rixas, de debates infrutíferos levados a cabo de maneira insultuosa e maledicente, o sujeito forte não gasta as suas energias com altercações a respeito de se chove ou se faz sol, nem tenta paranoicamente adivinhar as intenções alheias, quando tem dúvidas. Ele vislumbra com clareza as circunstâncias em que é preciso agir – atacando com moderação os obstáculos ao bem visado em sua ação e resistindo aos males com os quais depara. Ao proceder assim, o forte reprime o temor e modera a audácia, dando-lhes a inteligibilidade sem a qual os atos humanos acabam regidos por perigosas paixões.

A genuína coragem é prudente; a falsa, imprudente. Eis aqui o critério seguro para quem queira aquilatar a real diferença entre o corajoso e o fanfarrão, entre o forte e fraco. Em síntese, os fortes são intrépidos na defesa de bens inegociáveis, mas sempre com prudência; os fracos são intrépidos na defesa dos seus egos cada vez mais hipertrofiados, por ocasião dos debates ilusórios que presumem vencer. Pensam discutir perante sábios na Ágora ateninense, mas estão sozinhos, aprisionados no cenáculo das suas consciências cauterizadas. A precipitação, vício decorrente da imprudência, é a propósito o labirinto do qual esses pobres-diabos não conseguem sair, o que faz deles verdadeiros profissionais da murmuração, da calúnia, do embuste travestido de boas intenções. Neste contexto, mencionemos o que diz Josef Pieper num dos seus escritos sobre as virtudes cardeais: Se o amor é perverso, o temor também o será. Ora, não há amor mais perverso que o da vanglória, filha da soberba; não há medo mais medíocre que o de não receber os aplausos do mundo.

Observe-se aonde leva a falta da virtude da fortaleza: à degradação do caráter.

Vale ainda dizer que a ambição, vício oposto à fortaleza por excesso, é um tipo de avareza espiritual, nas palavras do Dr. Martín Echavarría,[2] porque as honrarias não devem buscar-se por si mesmas; mas para desgraça do fraco é justamente neste terreno pantanoso que ele se afoga. Em brigas nas quais se mete, este frenético ser ambiciona sempre o reconhecimento de alguma platéia. Pois muito bem, a ambição é diametralmente oposta à magnanimidade, virtude considerada por Tomás de Aquino como uma das partes potenciais da fortaleza.[3] Esquadrinhemos, então: a pessoa forte tem o ânimo magno, ou seja, volta-se às coisas grandiosas de maneira ordenada; a pessoa fraca padece de pequenez de ânimo, ainda quando esta sua pusilanimidade se manifesta sob a capa cínica da impertinência.

A valentia neurótica é o retrato fidedigno do mentiroso in actu excercito de enganar-se a si mesmo.

Palmas para ele!

1- Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 123.
2- Martín Echavarría, Los vicios opuestos a la fortaleza según Tomás de Aquino.
3- Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 129.


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MUITA IRREVERÊNCIA, NENHUMA PIEDADE

 



por Sidney Silveira

Quando a irreverência transforma-se em hábito é sinal de que a devoção a Deus e a piedade são impossíveis para uma pessoa.

Leia-se com atenção o Capítulo XX da Regra de São Bento, intitulado "De reverentia orationis", para que se entenda o seguinte: OS IRREVERENTES SÃO DEVOTOS DO PRÓPRIO UMBIGO, no melhor dos casos, porque lhes falta o abandono de si e a circunspecção, duas características das almas contemplativas, únicas capazes de real devoção.

Muita galhofa para com os homens descamba num coração impuro para relacionar-se com Deus da maneira devida, a saber, reverente e devotamente.

"Humilitas", "reverentia" e "puritatis devotio", que segundo São Bento perfazem a atitude interior da verdadeira oração, são realidades muito distantes dos escarnecedores.

Se estivesse nos desígnios de Deus recivilizar o mundo, bastava, sim, a essência da pedagogia beneditina.


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O mundo da falsa unidade...

 



por Sidney Silveira

"El delirio por la unidad se ha apoderado de todos en todas las cosas: unidad de códigos, unidad de modas, unidad de civilización, unidad administrativa, unidad comercial, industrial, literaria y linguística". DONOSO CORTÉS

Lembremos que Donoso Cortés morreu em 1853 e tenhamos a idéia de quão visionário ele foi. O delírio de que fala transformou o mundo em amálgama indomável, feito duma unidade oca, sem substância – a qual joga todos contra todos prometendo a redenção terrena duma paz quimérica.


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MÁXIMAS E MÍNIMAS SOBRE A INVEJA



  • A inveja nunca morre de cansaço.
  • O invejoso adora com fervor a mediocridade alheia.
  • Não há redenção na inveja.
  • A mais pequenina e silenciosa das invejas é um ato de fúria.
  • O invejoso é o pior intérprete da realidade.
  • A inveja é o mais desastroso equívoco das pessoas que não sabem amar.
  • O invejoso precisa de uma teoria que o justifique.
  • O manipulador usa a inveja alheia em benefício próprio.
  • Toda inveja é um sistema de autojustificativas.
  • O invejoso é imoralmente apegado a detalhes.
  • A inveja é a derrota da inteligência para uma vontade hipertrofiada.
  • A inveja não é fruto do acaso.
  • Toda inveja é uma ambição desmedida.
  • Pior que a inveja só o contorcionismo intelectual de justificá-la.
  • Ninguém tem pendor natural à inveja.
  • O invejoso tem na própria inveja o seu castigo.
  • Nãohá inveja que não nasça duma mentira.
  • Verdadeiro milagre é um invejoso arrepender-se.
  • Desobedecer o quanto puder, eis o ofício do invejoso.
  • A inveja política é um disfarce da inveja filosófica.
  • As maiores invejas são um primor de sofisticação.
  • Ama de todo o coração, e serás invejado com fúria.
  • A pior das afrontas para o invejoso é a bondade alheia.
  • Excesso de sarcasmo é sintoma de inveja.
  • O silêncio do invejoso fala.
  • O ódio é a sinceridade do invejoso.
  • Inveja é o nome multissecular da egolatria.
  • A futilidade é irmã caçula da inveja.


Fonte:  Contra Impugnantes


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Exerça a vigilância sobre as suas ações, a fim de que não labute em vão



O Abade Daniel referiu ter o Abade Arsênio contado o seguinte, como que falando de ou trem; talvez, porém, se tratasse dele mesmo: «Estando certo ancião na cela, desceu a ele uma voz que dizia: ‘Vem, mostrar-te-ei as obras dos homens’». Tendo-se, pois, levantado, saiu, e quem falara, levou-o para certo lugar, onde lhe mostrou um etíope que cortava lenha, e fizera um grande fardo; tentava carregar a este, mas não o podia; ora, em vez de tirar algo do fardo, de novo se punha a cortar» lenha, e acrescentava-a à carga. Isto, ele o ia fazendo por muito tempo.

Tendo caminhado mais um pouco, aquele que falava, de novo mostrou-lhe um homem colocado ã margem de um lago; hauria água, e derramava-a numa vasilha furada, a qual deixava a água recair no lago.

Disse-lhe de novo: «Vem, mostrar-te-ei ainda outra coisa». Viu então um templo e dois homens montados em cavalos; postos um em face do outro, carregavam um lenho atravessado entre ambos; queriam entrar pela porta, mas não o conseguiam, por estar o lenho atravessado; um desses homensnão se abaixou diante do outro a fim de colocar o lenho em linha reta; por isto permaneceram do lado de fora da porta. 

«Estes são», disse, «os que carregam com soberba uma espécie de jugo de justiça, e não se abaixam a fim de se tornarem retos e caminhar a via humilde de Cristo; por isto permanecem fora do reino de Deus. 

Aquele que cortava lenha, é o homem réu de muitos pecados, que, em vez de fazer penitência, acrescenta novas iniquidades aos seus pecados. 

E aquele que hauria água, é o homem que pratica boas obras, mas, por lhes ter misturado algo de mau, perdeu também as boas obras. 

É preciso, pois, que todo homem exerça a vigilância sobre as suas ações, a fim de que não labute em vão».

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Apoftegmas – A Sabedoria dos Padres do Deserto


domingo, 1 de outubro de 2023

O lenho seco

 


Do Abade João Curto contaram que se retirou para junto de um ancião Tebano na Cétia, ficando a residir no deserto. Ora o seu Abade, tomando um lenho seco, plantou-o e disse-lhe:

“Rega-o diariamente com um cântaro d’água, até que dê fruto”.

A água, porém, ficava distante deles, de movo que, para hauri-la, devia sair à tarde e voltar de manhã.

Passados três anos, o lenho viveu e deu fruto; o ancião então colheu-o e levou-o para a igreja, dizendo:

“Tomai, comei o fruto da obediência”.


(BETTENCOURT, Estêvão. Apoftegmas – A Sabedoria dos Padres do Deserto. Lumen Christi, Rio de Janeiro, 1979)

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Pelo descanso eterno de Creusa Pereira Sassaki


Que o Bom Deus dê à Creusa Pereira Sassaki o descanso eterno, e aos familiares e amigos dê o consolo e o conforto que tanto precisam neste momento.

Oremos

Pai Santo, Deus Eterno e Todo-Poderoso, nós vos pedimos pela Creusa Pereira Sassaki, a quem chamastes deste mundo. Dai-lhe a felicidade, a luz e a paz. Que ela, tendo passado pela morte, participe do convívio de vossos santos na luz eterna, como prometestes a Abraão e à sua descendência. Que a sua alma nada sofra, e vos digneis ressuscitá-la com os vossos santos no dia da ressurreição e da recompensa. Perdoai-lhe os pecados, para que alcance junto a Vós a vida imortal no Reino eterno. Por Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal. Amém.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

Dai-lhe, Senhor, o repouso eterno e brilhe para ela a vossa luz! Descanse em paz!

Requiem aeternam dona ei, Domine, et lux perpetua luceat ei. Requiescat in pace. Amen.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Mito vs. Fato Histórico, por Pe. Pierre Blet, SJ



Ao falecer, em 9 de outubro de 1958, Pio XII foi objeto de unânimes tributos de admiração e gratidão: "O mundo", declarou o presidente Eisenhower, "está mais pobre depois da morte do Papa Pio XII". E Golda Meir, Ministra das Relações Exteriores do Estado de Israel, disse: "A vida de nossos tempos foi enriquecida por uma voz falando sobre grandes verdades morais acima do tumulto do conflito diário. Lamentamos um grande servo da paz".1 Alguns anos depois, a partir de 1963, ele havia se tornado o vilão de um mito sinistro: durante a guerra, por cálculo político ou covardia, ele deveria ter permanecido impassível e silencioso diante dos crimes contra a humanidade que sua intervenção poderia ter causado. impedido.

Quando as denúncias são baseadas em documentos, é possível discutir a interpretação dos textos, verificar se foram mal interpretados, aceitos acriticamente, distorcidos ou selecionados com um viés específico. Por outro lado, quando um mito é construído com elementos díspares e fantasia, o argumento é infundado. A única coisa possível é contrapor ao mito a realidade histórica, comprovada por documentos incontestáveis. Para isso, o Papa Paulo VI, que como Substituto da Secretaria de Estado foi um dos colaboradores mais próximos de Pio XII, autorizou a publicação em 1964 dos documentos da Santa Sé relativos à Segunda Guerra Mundial.

A organização de 'Actes et Documents'

De fato, o dossiê no qual se pode acompanhar dia a dia, e às vezes de hora em hora, a atividade do Papa e seus ofícios está guardado nos arquivos da Secretaria de Estado. Contêm mensagens e endereços de Pio XII, cartas trocadas entre o Papa e autoridades civis e eclesiásticas, notas da Secretaria de Estado, memorandos de subordinados a seus superiores relatando informações e propostas, bem como notas privadas (em particular as de Mons. Tardini, que tinha o hábito, muito útil para os historiadores, de comentar de caneta na mão), a correspondência da Secretaria de Estado com os representantes da Santa Sé no exterior (Núncios, Internúncios e Delegados Apostólicos), e as notas diplomáticas trocadas entre a Secretaria de Estado e os embaixadores ou ministros acreditados junto à Santa Sé. Esses documentos são emitidos em sua maioria em nome e com a assinatura do Secretário de Estado ou do Secretário da Primeira Seção do Secretariado: isso não significa que não expressem as intenções do Papa.

Atos e Documentos da Santa Sé relacionados com a Segunda Guerra Mundial



Actes et Documents du Saint Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale (Atos e Documentos da Santa Sé relacionados com a Segunda Guerra Mundial), frequentemente abreviado como Atos ou ADSS, é uma coleção de onze volumes de documentos dos arquivos históricos do Vaticano, relacionado com o papado do Papa Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial.

A coleção foi compilada por quatro sacerdotes-historiadores jesuítas - Pierre Blet (França), Angelo Martini (Itália), Burkhart Schneider (Alemanha) e Robert A. Graham (Estados Unidos) - autorizada pelo Papa Paulo VI em 1964 e publicada entre 1965 e 1981.

O restante dos documentos do papado de Pio XII pode levar anos para ser divulgado; O bispo Sergio Pagano, prefeito dos Arquivos Secretos do Vaticano, anunciou em junho de 2009 que cinco ou seis anos adicionais de preparação seriam necessários para organizar os documentos, após o que a decisão de disponibilizar mais documentos aos pesquisadores caberá ao papa. O catálogo completo incluiria aproximadamente 16 milhões de documentos do papado de Pio XII (1939-1958), divididos em aproximadamente 700 caixas relacionadas ao Cardeal Secretário de Estado e as várias nunciaturas. 

A obra está disponível no site do vaticano. Clique Aqui!