quarta-feira, 29 de março de 2017

Santos Jonas e Barachiso


Mártires

(+ 327)

No ano de 327 houve uma cruel perseguição da Igreja na Pér­sia. Entre as numerosas vítimas fi­guram os dois irmãos Jonas e Ba­rachiso, da cidade de Beth-Asa, que, sabendo da iminente execução de alguns cristãos, encarcerados em Hubaham, para lá se dirigiram, pa­ra consolá-los e animá-los no últi­mo combate. Nove destes presos re­ceberam a coroa do martírio.

Imediatamente depois foram Jo­nas e Barachiso levados à presença do juiz. Este com todo o empenho quis persuadir-lhes que era neces­sário adorar o rei dos reis, isto é, o imperador da Pérsia, e também o sol e a lua. “Não é mais convenien­te adorar o Rei imortal do céu e da terra do que um homem mortal?” obtemperaram os dois irmãos. O juiz mandou separá-los. Barachiso foi metido no cárcere e Jonas bar­baramente açoitado. Enquanto lhe aplicavam tal suplício, Jonas elevou o espírito a Deus e ofereceu-lhe o sacrifício da vida pela fé. Depois lhe ataram os pés e atiraram-no nu­ma lagoa coberta de gelo.

Pela tarde do mesmo dia recome­çou o inquérito de Barachiso. Dis­seram-lhe que o irmão havia sacri­ficado aos deuses. Barachiso respondeu-lhes: “Isto não acredito, porque conheço bem meu irmão, que não é capaz de adorar criatu­ras”. Em seguida fez uma defesa tão brilhante da religião cristã, que o próprio juiz se admirou. Temen­do, porém, que um ou outro dos circunstantes, pela eloquência de Ba­rachiso, abandonasse a religião oficial, determinou que só à noite e com exclusão do povo, fosse conti­nuado o inquérito. Ao mesmo tempo mandou que colocassem nos bra­ços do mártir ferros em brasa. “Pe­la fortuna do reino, disse-lhe o juiz! Se deixares cair um destes ferros, para nós é sinal de teres abandona­do tua fé”. Barachiso respondeu: “Não temo vosso fogo e não deixa­rei cair os instrumentos do meu martírio; peço-vos que apliqueis em mim de vez toda a sorte de suplícios. Quem combate por Deus, não desfalece”. Os magos, no auge da fúria, deitaram-lhe chumbo derreti­do nas narinas e nos olhos e fecha­ram-no, novamente no cárcere, pen­durando-o por um pé.


No dia seguinte tiraram Jonas da água e, estando ele ainda vivo, per­guntaram-lhe: “Como passaste a noite? Sem dúvida não sofreste pouco”. Jonas replicou: “Nunca pas­sei noite como esta; a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo foi para mim manancial de consolo”. Os Persas disseram-lhe: “Teu irmão abjurou”. “Sei que ele abjurou, res­pondeu Jonas, mas ao demônio e às suas obras”. Os Persas: “Cuidado com tua vida!” Jonas: “Se sois sábios como pretendeis, dizei-me: não é melhor semear a semente, do que guardá-la no celeiro, sob o pre­texto de defendê-la contra a chuva e mau tempo? Esta vida é uma semente, que traz frutos belíssimos da eterna glória”. Os Persas: “vos­sos livros já têm enganado muita gente”. Jonas: “É verdade que afas­taram já a muitos dos prazeres mundanos. Um verdadeiro cristão, em cujo coração arde a chama do amor a Jesus Cristo, despreza as riquezas e honras deste mundo; só um desejo o anima, o de ver o ver­dadeiro Rei, cujo reino é eterno e cujo poder se estende sobre o mun­do visível e invisível”.

Foram estas as últimas palavras do Mártir. Os magos atiraram-se sobre ele, cortaram-lhe as mãos e os pés, arrancaram-lhe a língua, tiraram-lhe o couro cabeludo e me­teram-lhe o corpo em piche em ebulição. Vendo que o fogo e o calor não lhe fizeram mal, cortaram-lhe o corpo em pedaços e jogaram-nos dentro de uma cisterna, que foi guardada por uma sentinela, para impedir que os cristãos se apode­rassem das relíquias.

Barachiso teve uma morte igual­mente terrível: Os bárbaros bate­ram-lhe com ferros pontuados, fi­zeram-no rolar pelo chão deitaram-lhe piche e enxofre ferventes na boca e maltrataram-no, até que não des­se mais sinal de vida.

Abstuciatos, amigo dos dois ir­mãos, comprou aos Persas os cor­pos dos Mártires.

O comandante da cavalaria do imperador Sapor, chamado Isaias, como testemunha ocular, escreveu a história do martírio de Jonas e Barachiso, concluindo da maneira seguinte: “Assim estes mártires lu­taram e venceram, oxalá Isaias pos­sa merecer-lhes a intercessão!” Jo­nas e Barachiso foram martirizados em 327, no décimo oitavo ano do governo do imperador Sapor.


Retirado e adaptado do livro: Lehmann, Pe. João Batista , S.V.D., Na Luz Perpétua, Lar Católico, Juiz de Fora, 1956.


Fonte: Lepanto
Ilustração I: Catholicism.Org
Ilustração II: Por Jacques Callot, French (Nancy 1592 - 1635 Nancy) | Harvard Art Museums 

domingo, 26 de março de 2017

26º aniversário de falecimento de Dom Marcel Lefebvre


Tomando conhecimento da morte de sua irmã mais velha, Jeanne, Dom Lefebvre decidiu não ir ao seu funeral [ndr: por conta de seus problemas de saúde]: “Rezo todo dia para que eu possa morrer antes de perder minha consciência. Prefiro partir, pois se caísse em contradição, diriam: ‘Aí está; ele disse que errou!’ E eles tirariam vantagem disso”.Muitas vezes o Arcebispo mencionava a morte suave de sua irmã mais velha, chamada de volta à casa por Deus quando acabara de ir tirar um cochilo; ele gostaria de ter falecido assim, embora com a Extrema Unção. Mas Deus pediria ao padre e bispo Marcel Lefebvre que tomasse parte em Seus sofrimentos redentores.

Em 7 de março de 1991, festa de Santo Tomás de Aquino, o Arcebispo deu a seus amigos e benfeitores de Valais a tradicional conferência. Cheio de fé e eloqüência, concluiu com estas palavras: “Nós as teremos!”. E no dia seguinte, às 11 da manhã, celebrou o que seria sua última Missa na terra. Mas tamanhas eram sua dor de estomago e fadiga que realmente pensou que não poderia terminá-la. Apesar disso, partiu de carro para Paris, a fim de assistir ao encontro dos fundadores religiosos nos “Círculos da Tradição”:  “É algo muito importante”, disse, “e está dentro do meu coração”.

Hospitalização, operação

Ele sequer passou de Bourg-en-Bresse; por volta das 4 da manhã, acordou seu motorista, Rémy Bourgeat: “Não estou bem”, disse, “vamos voltar para a Suíça”. E a seu pedido, ingressou no hospital em emergência na manhã de 9 de março. O direitor do hospital em Martigny, Sr. Jo Grenon, era um amigo de Ecône. O Arcebispo foi acolhido na ala operatória no quarto 213. Atrás das montanhas que cercam a cidade estava Forclaz, e França, e não muito distante o Grande Passo de São Bernardo, Itália, e Roma.

O Arcebispo estava confiante, mas sofria: “É como um fogo queimando meu estômago e subindo até meu peito”.

Padre Simoulin deu-lhe a Sagrada Comunhão, que receberia até a sua operação: Ele o agradeceu: “Fiz o senhor perder as vésperas… mas o senhor fez uma obra de caridade. Trouxe para mim o melhor Médico. Nenhum deles pode me dar mais do que o senhor deu”.

Admirava o Crucifixo, que fora trazido para o altar temporário em seu quarto: “Ele ajuda a suportar os sofrimentos”.

Analgésicos ajudavam a diminuir seus sofrimentos e era alimentado intravenosamente. Brincava, dizendo às enfermeiras: “Vocês fizeram um bom negócio comigo: estou pagando integralmente e vocês sequer estão me alimentando!”

Além do mais, era muito paciente e os médicos tiveram que repreendê-lo para que falasse sobre suas dores. As enfermeiras acharam-no muito gentil e excepcionalmente discreto: nunca usara o sino para pedir atenção. Não queria incomodar os outros. Estava um pouco preocupado com as conseqüências de uma cirurgia, mas ao mesmo tempo resignado e confiante. Disse por diversas vezes: “Terminei meu trabalho e não posso fazer mais. Não me resta senão rezar e sofrer”.

Na segunda-feira, 11 de março, sentiu um calafrio subindo suas pernas e pediu a Extrema-Unção, que recebeu com grande recolhimento e simplicidade, mantendo seus olhos fechados e respondendo ao sacerdote de maneira muito clara. Em seguida, pediu a benção apostólica in articulo mortis (na hora da morte) e então abriu seus olhos tranquilos, sorriu, agradeceu ao sacerdote e acrescentou: “Quanto às orações pelos moribundos, podemos esperar um pouco mais”.

Melhorara um pouco, mas ainda não havia começado a rezar novamente seu breviário. “Então rezo algumas orações simples. Não sirvo para mais nada. Nada mal”.

Ele já havia passado por numerosos exames quando na quinta-feira, 14 de março, os médicos decidiram dar-lhe uma refeição que apreciasse e que lhe desse alguma resistência. Mas ele não a comeu, a fim de que pudesse receber a Sagrada Comunhão… o Padre estava com pressa. Na mesmo dia, um dos médicos disse ao Padre Denis Puga: “Padre, devo lhe dizer algo. Passei o dia com o Arcebispo por causa dos exames. Ele é um homem extraordinário, e sinceramente é um prazer estar com ele. Que bondade! É possível ver a bondade divina em sua face. O senhor realmente é privilegiado por estar tão próximo dele. As pessoas não percebem quando o vêem nos jornais. Pedi ao Arcebispo que rezasse por mim”.

Esse médico não era católico. Na sexta-feira, 15 de março, Dom Lefebvre foi levado a Monthey para ser examinado por um tomógrafo. Voltou ao hospital onde seus padres o encontraram com certa dificuldade por causa do intravenoso, que estava lhe causando inchaço:

“Suas veias estão muito difíceis”, disse-lhe o Padre Simoulin.

“Não, muito pelo contrário, parece que elas estão bem e miúdas. Que tal… para um bispo de ferro!”

No sábado, dia 16, Sitientes, as ordenações ao subdiaconato ocorreram em Ecône. “Estava unido em oração com a ordenação”, disse o Arcebispo ao Padre Puga.

“É a primeira ordenação, e ela não teria ocorrido se o senhor não nos tivesse dado bispos”.

“Sim, de fato aquele ano de 1988 foi uma grande graça, uma benção do Senhor, uma verdadeiro milagre. Esta é a primeira vez que fiquei seriamente doente em que também fiquei perfeitamente em paz. Devo admitir… desculpe… mas antes, quando eu ficava doente, estava sempre preocupado pelo fato da Fraternidade ainda precisar de mim e de que ninguém poderia fazer o meu trabalho. Agora estou em paz, tudo está pronto e caminhando bem”.

No domingo, dia 17, Domingo da Paixão, após receber a Sagrada Comunhão, ele explicou que seria operado nos próximos dias e advertia: “Que o Senhor me leve, se quiser”.

Assim, a cirurgia ocorreu na segunda-feira da Semana da Paixão: “Quando o médico me pediu para contar até dez enquanto eu adormecia, fiz um grande sinal da Cruz… e então… não havia mais nada. Depois acordei e perguntei: “Então a cirurgia não está indo adiante?”

“Mas Sr. Lefebvre [sic], já acabou”, responderam.

Este foi o relato que o Arcebispo fez de sua cirurgia. O cirurgião removeu um grande tumor, do tamanho de mais ou menos três toranjas. Aconteceu de ser canceroso, mas nada foi dito ao paciente. Estava exausto pela cirurgia, mas sorriu por detrás de sua máscara de oxigênio e do tubo estomacal. Na noite da quarta-feira, ficou ansioso; seus membros estavam terrivelmente inchados e tinha dores nas costas e de cabeça. Disse: “É o fim, tenho uma terrível dor de cabeça. O bom Deus deve vir e me levar. Quero realmente morrer com um pouco dos meus padres ao meu redor para rezarem a oração pelos agonizantes. Eles não podem me negar isso”.

Pensava que seus padres estavam sendo impedidos de vê-lo e a chegada de Padre Puga, na manhã da quinta-feira, o acalmou. Ficou novamente otimista e muito mais alegre. No Sábado da Semana da Paixão, Dom Lefebvre falou sobre os procedimentos humilhantes e dolorosos que tivera de sofrer, e disse que o menor dos esforços o exauria. Suas mãos estavam inchadas.

“Estamos no tempo da Paixão”, disse o Padre Simoulin.

O Arcebispo fechou seus olhos e repetiu: “Sim, é a paixão!”. Ele não podia receber a Comunhão: “Sinto falta… preciso dela… ela me dá força”, disse tristemente.

Na noite do mesmo dia, Padre Puga o contou sobre algumas observações do Cardeal Gagnon na 30 Giorni, no sentido de que não encontrara nenhum erro doutrinal em Ecône. O Arcebispo encolheu os ombros: “Um dia a verdade virá. Não sei quando, mas o bom Deus o sabe. Mas virá”.

Morte dolorosa

Ao final, o Arcebispo não tinha a menor dúvida de que fizera a coisa certa. Como veremos, seu fim foi, assim como sua vida, centrado e fortalecido por uma fé que era simples, discreta e modesta. Parece não ter havido mensagens espirituais ou novissima verba – “últimas palavras”. Fez algumas poucas observações que eram aparentemente comuns ou “mesmo travessas, embora não maliciosas”, cuja importância apenas seriam visíveis posteriormente, especialmente com relação àqueles que pouco ou nada conheciam Dom Lefebvre e que não poderiam imaginar como ele morreu, já que não viram como ele viveu.

No Domingo, 24 de março, o primeiro dia da Semana Santa, as condições do paciente repentinamente pioraram. Na sexta-feira, pediu por seu relógio e aparelho auditivo (prova de que estava se sentindo melhor) e no sábado pensaram em transferi-lo de volta para seu quarto no dia seguinte. Mas no domingo, a esperança deu lugar à preocupação: o Arcebispo tinha uma temperatura muito alta e o cardiologista decidiu mantê-lo na unidade de tratamento intensivo. Estava agitado e sentia dores, e falava incessantemente, mas por conta da máscara de oxigênio havia dificuldade para compreendê-lo. Todavia, Jo Grenon decifrou: “Somos todos filhinhos Dele”. Quando Grenon o deixou, o Arcebispo sorriu e estendeu sua mão para dizer adeus.

Quando o Padre Simoulin disse a ele que seu irmão Michel Lefebvre viera, sorriu o máximo que pôde e a alegria brilhou em sua face. Por volta das 7 da noite, o reitor de Ecône retornou ao hospital, mas assim que entrou na unidade de tratamento intensivo, ouviu o assustador som do forte gemido que podia ser ouvido acima dos barulhos vindos do equipamento ao lado; ele aumentava ainda mais por causa da máscara de oxigênio. O Arcebispo estava absolutamente exausto e não podia falar, mas compreendia tudo que o padre lhe disse: “Excelência, o retiro que o senhor estaria pregando para nós… está sendo pregado de uma maneira que não prevíamos!”. O Arcebispo sorriu. “Alguns dos fiéis de Valais, incluindo os motoristas [ndr: amigos pessoais de Dom Lefebvre], estão seguindo o retiro conosco”. E o Arcebispo sorriu novamente.

Então o padre notou o Crucifixo do cubículo e fez uma observação, enaltecendo o hospital e seu bom diretor, que colocava todo paciente sob o olhar do Redentor. Muito lentamente o Arcebispo moveu sua cabeça à esquerda, para olhar na direção em que o Padre apontara, e então suavemente fechou os olhos.

Um sorriso… um olhar para o Crucificado… estas foram as últimas palavras de Dom Lefebvre. Um sorriso… para dizer obrigado, para acalmar, para encorajar os outros a terem a mesma serenidade, um sorriso de caridade e atenção aos outros, no esquecimento de si mesmo. Um olhar em direção ao Crucifixo, o último gesto consciente que seus filhos viram-no fazer: o olhar adorador do contemplativo e do sacerdote.

Por volta das 11:30 da noite, o hospital ligou para Ecône: Dom Lefebvre acabara de sofrer uma parada cardíaca e estava em processo de ressuscitação. Os Padres Simoulin e Laroche encontraram o Arcebispo respirando com grande dificuldade: seus olhos estavam fixos e vidrados. Fora-lhe administrada uma massagem cardíaca e devia ter sofrido uma embolia pulmonar.

Enquanto o Padre Laroche retornava ao seminário para acordar a comunidade e levá-la para rezar na capela, Padre Simoulin permanecia com o Arcebispo, que dolorosamente tentava respirar; era como a agonia do Crucificado. Com o passar do tempo, seu rosto ficava mais revestido de dor enquanto as medições nos monitores diminuíam pouco a pouco.

Por volta das 2:30 da madrugada, seu declínio se acelerou e sua respiração diminuiu, ao passo em que a dor ainda traçava uma marca em sua fronte. Pouco a pouco tudo se acalmava. Em torno das 3:15 da madrugada, o padre disse à enfermeira: “Sua alma está apenas esperando por uma coisa: deixar seu corpo que sofre e estar com Deus”;

“Acho que a alma está deixando agora”, disse a enfermeira, saindo depois.


Padre Simoulin começou então as orações pelos agonizantes. “Exatamente no momento em que eu terminara”, disse, “era por volta das 3:20 da manhã, e o Superior Geral, Padre Schmidberger, entrou na unidade de tratamento intensivo. O monitor do pulso caiu até ‘00’, mas ainda se podia ouvir a respiração: era o Arcebispo ou a máquina? Ofereci o ritual ao Padre Schmidberger, que recomeçou as orações in expiratione”.

Alguns últimos surtos de dor relampejaram do rosto do Arcebispo e então, por volta das 3:25 da madrugada, os sofrimentos cessaram completamente e ele retornara à paz novamente. O Superior Geral então fechou os olhos do amado pai.

Era uma segunda-feira da Semana Santa, 25 de março, festa da Anunciação da Santíssima Virgem Maria, o dia em que o Céu sorriu para a Terra e quando a esperança renasceu nas almas: o dia da Encarnação do Filho de Deus e da ordenação sacerdotal de Jesus Cristo como Sumo Sacerdote. Neste dia, a alma de Marcel Lefebvre foi julgada…

Em Lille, quinze anos antes, ele disse: “Quando eu estiver diante de meu Juiz, não quero ouvi-lo dizer a mim: ‘Vós também, vós deixastes a Igreja ser destruída’”.

Então, naquele 25 de março de 1991, quando Deus o perguntou o que fizera com a graça de seu sacerdócio e episcopado, o que, de fato, poderia ele ter respondido, esse velho soldado da Fé, esse bispo que restaurou o sacerdócio Católico?

“Senhor, vede, eu transmiti tudo o que podia ter transmitido: a Fé Católica, o sacerdócio Católico e também o episcopado Católico; Vós me destes tudo isso e tudo isso transmiti para que a Igreja pudesse continuar”.

"Transmiti o que recebi".

“Vosso grande Apóstolo disse, ‘Tradidi quod et accepi’ e como ele eu quis dizer: ‘Tradidi quod et accepi’, transmiti o que recebi. Tudo que recebi, transmiti”.

Ninguém tem maior amor

Os restos mortais do fiel lutador foram solenemente trazidos de volta para Ecône. Em vestes pontificais, ficaram velados na capela de Notre Dame des Champs. A multidão formou fila por toda a semana; até o Núncio e Dom Schwery, bispo de Sion, vieram e abençoaram o corpo daquele que o Papa declarou excomungado. O corpo foi assistido dia e noite, da segunda  [dia 25 de março] até a terça-feira da Páscoa [2 de abril]. O Arcebispo recebeu uma benção final na manhã de 2 de abril, e então o caixão foi fechado. Uma placa foi afixada sobre o mesmo, ornado com as armas do Arcebispo e as palavras que ele pediu que se gravasse: Tradidi quod et accepi.

Lentamente o Arcebispo foi carregado sobre os ombros de seus padres e passou pela multidão de vinte mil fiéis que se reuniram para o funeral. Foi levado pelo campo de Ecône no qual ele muitas vezes transmitiu a graça do sacerdócio. Então chegou à “basílica-tenda”, no fundo do campo, onde ocorreriam a Missa e as Absolvições Pontificais. O clima estava frio e nublado; o sol apenas brilhava no lado oposto do vale. De repente, no meio da cerimônia, ele lançou suas luzes na imensa multidão de amigos da Fraternidade São Pio X. O calor se espalhou. Então, quando o corpo foi levado de volta pelo campo, debaixo do céu azul, a seu lugar de descanso em Ecône, vinte mil almas sentiram em seus corações que ali a vida estava passando e continuando. Este também era o sentimento nos corações de seus filhos no sacerdócio, cada um deles segurando uma pequena vela acesa na ofuscante luz refletida nas rochas atrás de Ecône. A Tradição estava viva.

No livro de condolências, um dos “soldados católicos” que seguiu a Tradição da Igreja graças a Dom Lefebvre, escreveu estas breves linhas: “Obrigado por intervir, por salvar o sacerdócio, por ter sido o nosso porta-bandeira, por ter se oferecido em holocausto para salvar o seu povo”.

Sim, ele amou a Igreja com todo o seu coração até os próprios limites do amor: in finem dilexit. Não teria ele mostrado o maior amor possível? Ele amou mais do que muitos, esse homem que até o último instante “acreditou na caridade que Deus tem por nós”.



Marcel Lefebvre, The Biography – Dom Bernard Tissier de Mallerais, 608-614, Angelus Press, 2004 – Tradução: Fratres in Unum.com

domingo, 12 de março de 2017

Segundo Domingo depois da Quaresma.

12/03 Domingo 
Festa de Primeira Classe
Paramentos Roxos


Leitura da Epístola de São Paulo

I Tessalonicenses 4,1-7
1 No mais, irmãos, aprendestes de nós a maneira como deveis proceder para agradar a Deus - e já o fazeis. Rogamo-vos, pois, e vos exortamos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. 2 Pois conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. 3 Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; 4 que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, 5 sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; 6 e que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. 7 Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade.

Sequência do Santo Evangelho 

São Mateus 17,1-9
1 Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. 2 Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. 3 E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele. 4 Pedro tomou então a palavra e disse-lhe: Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias. 5 Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição; ouvi-o. 6 Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo. 7 Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-os, dizendo: Levantai-vos e não temais. 8 Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão unicamente Jesus. 9 E, quando desciam, Jesus lhes fez esta proibição: Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.



São Gregório Magno, baluarte da Idade Média nascente



Doutor da Igreja, um dos maiores Papas da História, dirigiu a Barca de Pedro com rara habilidade e deu rumo à conturbada época em que viveu

Plinio Maria Solimeo

“Gregório é certamente uma das mais notáveis figuras da história eclesiástica. Exerceu em vários aspectos uma significativa influência na doutrina, organização e disciplina da Igreja Católica. A ele devemos olhar, para a explicação da situação religiosa da Idade Média; com efeito, não se levando em conta seu trabalho, a evolução da forma da Cristandade medieval seria quase inexplicável. Tanto quanto o moderno sistema católico é um legítimo desenvolvimento do catolicismo medieval, não sem razão Gregório deve também ser chamado seu pai. Quase todos os princípios diretivos do subseqüente Catolicismo são encontrados, pelo menos em gérmen, em Gregório Magno”.(1)

Ele “merece o glorioso título de Magno por todas as razões que podem elevar um homem acima de seus semelhantes: porque foi magno em nobreza e por todas as qualidades que vêm do nascimento e dos ancestrais; magno nos privilégios da graça com que o Céu o cumulou; magno nas maravilhas que Deus operou por seu intermédio; e magno pelas dignidades de Cardeal, de Legado, de Papa, para as quais a divina Providência e seus méritos o elevaram”.(2)

Esmerada e virtuosa educação

Gregório nasceu em Roma no ano 540. Seu pai, Gordiano, era senador. Muito rico, após o nascimento do filho consagrou-se inteiramente a Deus no serviço dos pobres. Sua mãe, Sílvia, não era menos ilustre nem menos virtuosa, e passou os últimos anos de sua vida em contemplação num pequeno oratório para onde se retirou. Além de sua mãe, duas de suas tias, Tarsila e Emília, foram também elevadas à honra dos altares. Assim, seu primeiro biógrafo, João, o Diácono, fala de sua educação como sendo a de um santo entre santas.(3)

Dotado de excepcional inteligência e brilhante memória, Gregório aprendeu com facilidade as letras divinas e humanas. É bem provável que tenha também estudado Direito. São Gregório de Tours, que nos deixou algumas impressões sobre ele, diz que em gramática, retórica e dialética ele era tão hábil que, segundo voz corrente, não tinha igual em toda Roma. Diz também que ele se entregou a Deus desde sua juventude.

Enquanto seu pai foi vivo, Gregório tomou parte na vida do Estado e chegou a ser prefeito de Roma. Com a morte daquele, resolveu retirar-se do mundo e consagrar-se a Deus. Isso deu-se provavelmente em 574. Com sua grande fortuna, fundou seis mosteiros na Sicília, além de um em Roma, em seu palácio, com o nome de Santo André. Nele tomou o hábito religioso. Sua caridade para com os pobres era tão grande, que foi premiada com vários milagres.

Em 577 o papa Bento I o nomeou cardeal-diácono ou regional. Os que estavam revestidos dessa dignidade, sete ao todo, presidiam às sete regiões principais de Roma para atender às suas necessidades.

Mais tarde o Papa Pelágio II enviou-o a Constantinopla, como legado e embaixador junto ao imperador Tibério. Sua missão principal consistia em mover o imperador a pôr ordem na Itália.

Depois de seis anos de vida diplomática nessa cidade, Gregório foi chamado a Roma, provavelmente em 585, sendo então eleito abade de Santo André. O mosteiro ficou famoso com seu enérgico abade, podendo-se ler muita coisa edificante dele em seus Diálogos. Dedicava-se muito à formação de seus monges, e explicou-lhes vários livros das Sagradas Escrituras, como o Pentateuco, o Livro dos Reis, os Profetas, o Livro dos Provérbios e o Cântico dos Cânticos.

Intervenção divina elimina a peste

No ano de 590, terríveis inundações seguidas de peste assolaram a Cidade Eterna, privando a Igreja de seu chefe, o Papa Pelágio. O clero, o povo e o Senado de Roma escolheram unanimemente para o Pontificado o diácono Gregório. Ele não queria aceitar, mas por fim acedeu, desde que a indicação fosse ratificada pelo imperador. Ao mesmo tempo escreveu a este, que era muito amigo seu, implorando que não ratificasse a escolha. Mas seu irmão, então prefeito de Roma, interceptou a carta e enviou ao imperador outra, enaltecendo as qualidades de Gregório e pedindo a confirmação no cargo.

Enquanto não vinha a resposta, Gregório assumiu interinamente o posto, devido ao estado de calamidade em que Roma se encontrava. Para fazer cessar o flagelo da peste, convocou procissões rogatórias gerais, durante três dias, com a presença de todos, inclusive a dos abades dos mosteiros da Cidade Eterna com seus religiosos, e das abadessas com suas religiosas. Gregório portou nessa procissão um antigo quadro da Virgem, cuja autoria é atribuída a São Lucas. Segundo a tradição, por onde passava o quadro, o ar corrompido cedia lugar ao são. Quando ele chegou nas proximidades do mausoléu de Adriano, de acordo com a mesma tradição, ouviram-se coros angélicos que cantavam: “Rainha dos Céus, alegrai-vos, aleluia; porque Aquele que merecestes portar, aleluia; ressuscitou como disse, aleluia”. O povo ajoelhou-se, cheio de devoção e alegria, e Gregório cantou: “Rogai por nós a Deus, aleluia”. No mesmo instante ele viu um anjo que embainhava a espada, para significar que o flagelo cessara. A partir de então o mausoléu de Adriano passou a ser conhecido como Santo Ângelo.

Quando chegou a resposta do imperador confirmando Gregório no cargo, este quis fugir, mas à força foi ordenado sacerdote e coroado Sumo Pontífice.

Capitão, rei, pontífice, pai do povo

Triste situação se apresentava ao novo Papa. A Igreja estava em deplorável estado, necessitando de mão firme que a reformasse. Na África, imperava a heresia donatista; na Espanha, a ariana; na Inglaterra, a idolatria; e na Gália, a simonia, os crimes de Fredegunda e os erros de Brunilda, rainha da Austrásia, na Gália. Na Itália, os lombardos, que eram arianos e rivais do poder imperial, faziam devastações. No Oriente, havia a arrogância dos patriarcas de Constantinopla e a má vontade dos imperadores bizantinos que, não podendo defender nem governar a Itália, ficavam enciumados por ver que os Papas cumpriam esse papel. Enfim, em todas as fronteiras do Império Romano, ondas de bárbaros ameaçavam acabar com o que restava de pé nesse mundo em transição.

O novo Papa “lutava contra a peste, contra os tremores de terra, contra os bárbaros heréticos e contra os bárbaros idólatras, contra o paganismo morto e infecto mas insepulto, contra seu próprio corpo, consumido pelas enfermidades; e se pôde dizer que a alma de Gregório era a única inteiramente sã que existia em toda a humanidade”.(4) Assim, com uma habilidade e energia raras ele se multiplicava, tornando-se capitão, rei, pontífice, pai dos romanos. Arregimentou tropas e pagou seu soldo, forneceu aos bárbaros as contribuições que exigiam para não invadir Roma; alimentou e consolou o povo. Obteve do rei dos lombardos uma trégua para Roma e seu território. Com a ajuda de Teodolinda, rainha dos lombardos, que era cristã e amiga fiel do Papa, conseguiu a conversão de toda a nação lombarda do arianismo para a fé católica. Livrou depois o território pontifício de todos os tiranetes que tinham surgido em meio à anarquia, dando início ao poder temporal dos Papas.

Em 592 o imperador bizantino, por um edito, proibiu seus soldados de abraçar a vida monástica. Imediatamente São Gregório escreveu-lhe mostrando que, com isso, ele feria as leis de Deus e o direito de consciência dos soldados. E lembrou ao imperador Maurício as contas terríveis que ele teria que prestar a Deus por essa decisão, no dia de seu juízo particular.

O grande Papa comunicou a seu embaixador em Constantinopla: “Sei tolerar por muito tempo, mas, uma vez que resolva resistir, lanço-me com alegria em todos os perigos. Antes morrer que ver a Igreja do Apóstolo São Pedro degenerar em minhas mãos”.

Por sua humildade, Gregório foi o primeiro Papa que se chamou “servo dos servos de Deus”. Em sua boca, essa declaração não era mera figura de retórica.

Consolida a liturgia, codifica o canto sagrado

Gregório foi profícuo em seus escritos, tendo todos eles alcançado grande repercussão. Daí o título que merecidamente recebeu de Doutor da Igreja. Em seu Livro da Regra Pastoral, por exemplo, uma de suas obras que mais influíram na Idade Média, fornece ao clero uma norma de vida. Já em suas Homilias, dirige-se ao povo com uma simplicidade comovedora. Sua palavra é tão eminentemente comunicativa, tão viva, tão apropriada, que a multidão a escuta religiosamente, às vezes com lágrimas, outras com aplausos.

De valor mais transcendental foram sua consolidação litúrgica e a codificação do canto eclesiástico (até hoje o canto-chão leva o seu nome, gregoriano). A ele se deve, por exemplo, o costume de cantar o Kyrie eleison na Missa, a introdução do Pai Nosso antes da fração da hóstia, e dos aleluias nos ofícios divinos, mesmo fora do tempo pascal. Teve muito empenho em realizar as cerimônias de culto com muita pompa exterior, para instrução e edificação do povo.(5) Do ponto de vista da liturgia, foi um digno predecessor do Papa São Pio V.

São Gregório Magno teve grande empenho na conversão dos ingleses, de modo a merecer o título de Apóstolo da Inglaterra.

O Pontífice, mesmo antes de ser eleito Papa, havia passado por diversas crises de saúde –– gota e intestinos –– que duraram meses inteiros.

Já no fim de sua vida, escreveu: “Há quase dois anos estou na cama, com grandes dores de gota, de modo que apenas nos dias de festa posso me levantar para celebrar. E logo, com a força da dor, me volto a deitar. [...] Assim, morrendo cada dia, nunca acabo de morrer, e não é maravilha que eu, sendo tão grande pecador, Deus me mantenha tanto tempo neste cárcere”. O grande Papa faleceu no dia 12 de março de 604, aos 60 anos de idade.


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Notas:

1. F.H. Dudden, Gregory the Great, 1, p. v, in The Catholic Encyclopedia, Volume VI, Copyright © 1909 by Robert Appleton Company, Online Edition Copyright © 2003 by Kevin Knight.
2. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo III, p. 360.

3. G. ROGER HUDLESTON, Saint Gregory the Great, The Catholic Encyclopedia.

4. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo I, p. 488.

5. Cfr. Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luís Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo II, p. 126.


Fonte: Catolicismo
Ilustração: por Antonello da Messina (1430–1479) entre os anos de 1472-1473.

domingo, 5 de março de 2017

POST TAM DINTURNAS - Papa Pio VII


PÍO VII 

Carta apostólica dirigida a Mons.
Boulagne, sobre la Constitución de 1814 
29 de abril de 1814 

Nuestra alegría se nubló bien pronto y dejó lugar a un gran dolor cuando vimos la nueva constitución del reino, decretada por el Senado de París y publicada en los diarios. Habíamos esperado que con el favor de la revolución recién hecha, la religión católica no solamente sería liberada de todas las trabas que se le habían impuesto en Francia, a pesar de nuestras constantes reclamaciones, sino que además, se aprovecharían las circunstancias tan favorables para restablecerla con todo esplendor y proveer su dignidad. Ahora bien, hemos advertido en primer lugar que en la constitución mencionada, la Religión Católica ha sido ignorada y no se hace mención ni siquiera de Dios Todopoderoso por quien reinan los reyes y mandan los príncipes.

Vos comprenderéis, venerables Hermanos, que semejante omisión nos ha provocado aflicción, pena y amargura a Nosotros, a quienes Jesucristo, Hijo de Dios Nuestro Señor, nos ha encomendado el supremo gobierno de la sociedad cristiana. Y, ¿cómo no estar desolados? Esta Religión Católica establecida en Francia desde los primeros siglos de la Iglesia, sellada en este reino con la sangre de tantos mártires gloriosos, profesada por la mayor parte del pueblo francés que, con coraje y constancia mantuvo con ella un invencible lazo a través de las calamidades, las persecuciones y los peligros de los últimos años; esta religión, finalmente, que reconoce públicamente la línea de descendencia a la que pertenece el rey designado y que siempre la ha defendido celosamente, no solamente no fue declarada la única acreedora en toda Francia al derecho del apoyo de la ley y la autoridad del gobierno sino que fue enteramente omitida en el acto mismo de restablecimiento de la monarquía.

Un nuevo motivo de pena que nos aflige aún más vivamente y que, reconocemos, nos: atormenta, nos agobia y nos colma de angustia es el artículo 22 de la Constitución. En él, no solo se permite la libertad de cultos y de conciencia, para servirnos de los mismos términos, sino que se promete apoyo y protección a esa libertad y además a los ministros de esos supuestos cultos. Por cierto no hay necesidad de tantas explicaciones, dirigiéndonos a un obispo como vos, para haceros saber con claridad la herida mortal que se infringe a la religión católica en Francia con este artículo. A causa del establecimiento de la libertad de cultos sin distinción alguna, se confunde la verdad con el error y se coloca en la misma línea de las sectas herejes y aún de la perfidia judaica a la Esposa santa e inmaculada de Cristo, la Iglesia, sin la cual no existe la salvación. En otras palabras, prometiendo favor y apoyo a las sectas herejes y no a sus ministros, se tolera y favorece no sólo a las personas, sino también a sus errores. Esta es, implícitamente, la desastrosa y por siempre deplorable herejía que San Agustín menciona en estos términos: "Ella afirma que todos los herejes están en la buena senda y dicen la verdad, absurdo tan monstruoso que no puedo creer que una secta lo profese realmente".

Nuestro estupor y nuestro dolor no han sido menores cuando leímos el artículo 23 de la constitución, que permite y defiende la libertad de prensa, libertad que amenaza la fe y las costumbres con enormes peligros y una certera ruina. Si alguien dudare, la experiencia de épocas pasadas será de por sí suficiente para enseñarle. Es un hecho plenamente constatado: la libertad de prensa ha sido el instrumento principal que ha depravado las costumbres de los pueblos en primer lugar, luego ha corrompido y abatido su fe y finalmente ha soliviantado la sedición, la agitación popular y las revueltas. Estos desgraciados resultados podrían temerse todavía, vista la maldad del hombre, si, Dios no lo quiera, se acordase a cada uno la libertad de imprimir todo lo que quisiere.

Otros puntos de la nueva constitución del reino, han sido también motivo de aflicción para nosotros: en particular los artículos 6º, 24 y 25. No expondremos en detalle nuestras opiniones al respecto. Vuestra Fraternidad, no dudamos, discernirá fácilmente la tendencia de esos artículos.

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(1)  Articulo 22do. La libertad de cultos y de conciencia es garantizada. Los mi. nistros de los cultos serán igualmente tratados y protegidos.

(2) San Agustín, de Haresibay, nº 72

(3)  Artículo 23ro: La libertad de prensa es completa salvo la represión legal de los delitos que podrían resultar del abuso de esa libertad.


quarta-feira, 1 de março de 2017

O jejum e a abstinência na lei da Igreja.



Jejum e abstinência no Novo Código de Direito Canônico de 1983.

Os dias e períodos de penitência para a Igreja universal são todas as sextas-feiras de todo o ano e o tempo da Quaresma [Cânon 1250]. A abstinência de carne ou de qualquer outro alimento determinado pela Conferência Episcopal deve ser observada em todas as sextas, exceto nas solenidades. [Cânon 1251].

A abstinência e o jejum devem ser observados na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. [Cânon 1252]. A lei da abstinência vincula a todos que completaram 14 anos. A lei do jejum vincula a todos que chegaram à maioridade, até o início dos 60 anos [Cânon 1252].

Jejum e abstinência tradicionais conforme o Código de Direito Canônico de 1917.

Entre 1917 e o Novo Código de 1983, certos países tinham dias de jejum e abstinência particulares, e.g., os Estados Unidos tinham a vigília da Imaculada Conceição em vez da Assunção como dia de abstinência; dispensas para S. Patrício e São José, etc. Não é possível relacioná-los todos. Publicamos as prescrições do código de 1917, com menção da extensão do jejum e abstinência até meia noite do Sábado Santo que foi ordenada por Pio XII.

Dias de jejum simples:

O jejum consiste numa refeição completa e duas menores, que juntas são menos que uma refeição inteira. Não é permitido comer entre as refeições, mas líquidos podem ser tomados. É permitido comer carne em dia de jejum simples. Os dias de jejum simples são: segundas, terças, quartas e quintas-feiras da Quaresma. [Cânon 1252/3]

Todos eram vinculados à lei do jejum a partir dos 21 até os 60 anos.

Dias de abstinência:

A abstinência consiste em abster-se de comer carne de animais de sangue quente, molhos ou sopa de carne nos dias de abstinência. A abstinência era em todas as sextas-feiras, a não ser que fosse um Dia de Guarda [cânon 1252/4]. A lei da abstinência vinculava a todos que tinham completado 7 anos de idade. [Cânon 1254/1].

Dias de jejum e abstinência:

O jejum e abstinência consistem numa refeição completa e duas refeições menores que juntas são menos que uma refeição inteira. Não era permitido comer carne de animais de sangue quente, molhos e sopas de carne. Não era permitido comer entre as refeições, embora bebidas pudessem ser tomadas. Esses dias eram: quarta-feira de cinzas, toda sexta e sábado da Quaresma (até meia noite no Sábado Santo), em cada uma das Quatro Temporas, Vigília de Pentecostes, Assunção, Todos os Santos e Natal. [Cânon 1252/2]

Os dias tradicionais de abstinência aos que usam o Escapulário de Nossa Senhora do Monte Carmelo são Quartas e Sábados.

Fonte: The year of Our Lord Jesus Christ 2009, The Desert Will Flower Press.


Retirado do site Fratres In Unum