Entrevista
a “The Remnant”
em 29.03.2020
Diane Montagna (DM): Excelência, qual é a sua impressão geral sobre o
modo como a Igreja está lidando com a epidemia de coronavírus?
+ Athanasius Schneider: Minha impressão geral é que a maioria dos
bispos reagiu precipitadamente e em pânico ao proibir todas as missas públicas
e - o que é ainda mais incompreensível - ao fechar as igrejas. Tais bispos
reagiram mais como burocratas civis do que pastores. Ao se concentrarem
exclusivamente em todas as medidas de proteção higiênicas, eles perderam a
visão sobrenatural e abandonaram a primazia do bem eterno das almas.
DM: A diocese de Roma suspendeu rapidamente todas as missas públicas
para cumprir as diretrizes do governo. Os bispos de todo o mundo adotaram
medidas semelhantes. Os bispos poloneses, por outro lado, pediram que mais
missas fossem celebradas para que a aglomeração fosse menor. Qual a sua opinião
sobre a decisão de suspender as missas públicas para impedir a disseminação do
coronavírus?
Enquanto os supermercados estiverem abertos e acessíveis e enquanto as
pessoas tiverem acesso ao transporte público, não se vê uma razão plausível
para proibir as pessoas de assistirem à Santa Missa em uma igreja. Poderiam se
garantir nas igrejas as mesmas e ainda melhores medidas de proteção higiênica.
Por exemplo, antes de cada missa, é possível desinfetar os bancos e as portas,
e todo mundo que entrar na igreja pode desinfetar as mãos. Outras medidas
semelhantes também podem ser tomadas. Pode-se limitar o número de participantes
e aumentar a frequência da celebração da missa. Temos um exemplo inspirador de
uma visão sobrenatural em tempos de epidemia no presidente da Tanzânia, John
Magufuli. O Presidente Magufuli, que é católico praticante, disse no domingo,
22 de março de 2020 (domingo Laetare), na Catedral de São Paulo, na capital da
Tanzânia, Dodoma: “Insisto com vocês, meus irmãos cristãos e até muçulmanos:
não tenham medo, não parem de se reunir para glorificar a Deus e louvá-lo. Por
isso, como governo, não fechamos igrejas ou mesquitas. Em vez disso, elas devem
estar sempre abertas para o povo buscar refúgio em Deus. As igrejas são lugares
onde as pessoas podem buscar a verdadeira cura, porque ali reside o Deus
verdadeiro. Não tenha medo de louvar e buscar o rosto de Deus na igreja. ”
Referindo-se à Eucaristia, o Presidente Magufuli também falou estas
palavras encorajadoras: “O coronavírus não pode sobreviver no corpo eucarístico
de Cristo; em breve será queimado. Foi exatamente por isso que não entrei em
pânico ao receber a Santa Comunhão, porque sabia que com Jesus na Eucaristia,
estou seguro. Este é o momento de construir nossa fé em Deus. ”
DM: Vossa Excelência acha que é responsável um sacerdote celebrar uma
missa particular com alguns fiéis leigos presentes, desde que sejam tomadas as
devidas precauções de saúde?
É responsável, e também meritório, e seria um autêntico ato pastoral,
desde que o sacerdote tome as precauções sanitárias necessárias.
DM: Os padres estão em uma posição difícil nessa situação. Alguns bons
padres estão sendo criticados por obedecer às diretrizes de seu bispo para
suspender as missas públicas (embora continuem a celebrar missas em
particular). Outros estão procurando maneiras criativas de ouvir confissões
enquanto procuram proteger a saúde das pessoas. Que conselho você daria aos padres
para viverem sua vocação nesses tempos?
Os padres devem lembrar que eles são, acima de tudo, pastores de almas
imortais. Eles devem imitar a Cristo, que disse: “Eu sou o Bom Pastor. O bom
pastor dá a vida por suas ovelhas. Quem é mercenário e não pastor, que não é o
proprietário das ovelhas, vê o lobo chegando, abandona as ovelhas e foge; e o
lobo as agarra e dispersa. Ele foge porque é mercenário e não se importa com as
ovelhas. Eu sou o Bom Pastor. Eu conheço minhas ovelhas, e minhas ovelhas me conhecem.
(João 10: 11-14) Se um sacerdote observa de maneira razoável todas as
precauções de saúde necessárias e usa de discrição, ele não precisa obedecer às
diretrizes de seu bispo ou do governo para suspender a missa para os fiéis.
Tais diretrizes são uma lei humana pura; no entanto, a lei suprema da Igreja é
a salvação das almas. Os padres em tal situação precisam ser extremamente
criativos para prover aos fiéis, mesmo para um pequeno grupo, a celebração da
Santa Missa e a recepção dos sacramentos. Tal era o comportamento pastoral de
todos os padres confessores e mártires em tempos de perseguição.