domingo, 26 de setembro de 2021

São Cosme e São Damião, Mártires



São Cosme e São Damião, Mártires 
(+ Cilícia, Ásia Menor, sécs. III-IV) 

Sofreram o martírio durante a perseguição de Diocleciano (284-305). Eram irmãos gêmeos e médicos, exercendo sua profissão gratuitamente, por caridade cristã, e nela obtendo curas espantosas. Durante a perseguição de Diocleciano (284-305) foram açoitados e em seguida decapitados, porque se negaram oferecer sacrifícios aos ídolos. Tiveram seus nomes incluídos no Cânon da Missa e são invocados como protetores contra as doenças do corpo e da alma. 

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Sobre a ilustração: 
Cristo Eucarístico com os Santos Cosme e Damião 
Autor: Alessandro Bonvicino (Il Moretto da Brescia) 
Data: Cerca de 1540 
Técnica: Óleo sobre tela 
Dimensões: 261 × 160 cm 
Localização: Chiesa arcipretale dei Santi Cosma e Damiano, Marmentino, Brescia, Itália.

sábado, 4 de setembro de 2021

En defensa de la tradición - Parte 1

La Iglesia no comenzó en el concilio vaticano II, combatir su pasado es un tremendo error. En defensa de la tradición nos dedicamos a demostrar el terrible daño que ha producido el abandono de la tradición de la Iglesia. Más aún, comprobamos que la tradición de la Santa Iglesia Católica es la verdad que Cristo confió a los hombres.



segunda-feira, 19 de julho de 2021

Bravura Católica

 

A quase 30km de Paris está a igreja de Saint-Louis, localizada em Port-Marly, na França. A igreja é dedicada a São Luís, Rei da França. 

Esta pequena comunidade católica permaneceu fiel à Doutrina e à Liturgia tradicional da Igreja, apascentadas pelo Rev. Cônego Gaston Roussel. 

O Cônego Roussel faleceu em 1985 e no ano seguinte, o Bispo de Versailles, Louis-Paul-Armand Simonneaux, nomeou um novo sacerdote, com ordens de rezar Missa Nova.

A chegada do novo padre imediatamente dividiu a paróquia, com a maioria de seus membros rejeitando a escolha do Bispo e insistindo que a Missa antiga fosse mantida.

Em novembro, os tradicionalistas, que haviam convidado o monge beneditino, Pe. Bruno de Blignieres, para ser seu pastor, ocuparam a igreja e barraram o novo padre. 

Em 30 de março de 1987 a igreja foi invadida por 50 policiais, a pedido da diocese, empunhando bastões de choque. O Padre Bruno estava rezando a missa quando foi tirado do altar pelas forças policiais. Homens, mulheres, idosos e crianças foram arrastados para fora da igreja pelos policiais. Em seguida, a pedido do bispo, colocaram barricadas de blocos de concreto nos lugares que davam acesso ao interior da igreja, para impedir que os fieis ocupassem o local novamente.

No Domingo de Ramos de 1987, os fiéis assistiram a Santa Missa, rezada em frente da Igreja e em seguida, de modo solene, abriram novamente a Casa de Deus, com bravura, derrubando o bloco de concreto que havia diante da porta.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Algumas Considerações Sobre a Cidade do Demônio

 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A CIDADE DO DEMÔNIO


por Cunha Alvarenga
Catolicismo n° 17, maio de 1952


Nos ambientes paganizados de nossos dias, quando a crença em Deus ainda costuma ser encarada como um elemento indispensável da religião, outro tanto normalmente não se dá com a crença na existência do demônio, ou na ação pessoal do príncipe das trevas, que é tida como uma superstição medieval, já completamente ultrapassada. O dogma do inferno, ligado à manifestação dos espíritos maus, quando não é diretamente combatido, costuma simplesmente ser deixado em silencio.


Eis-nos diante de uma espiritualidade incompleta, deformada, que nos apresenta uma autêntica caricatura da realidade não somente sobrenatural, mas até mesmo natural. Com efeito, se fizermos abstração do demônio, não acharemos explicação nem para a Queda, nem para a Redenção, nem para a existência da Igreja, nem, portanto, para toda a História da humanidade.


Velha manha do pai da mentira


“Sim, hei de esconder-me e em lugar onde não me encontrem". Eis uma das revelações que o demônio, na noite de 7 para 8 de fevereiro de 1923, fez à Irmã Josefa Menendez, Religiosa da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus, falecida em odor de santidade. Continua, portanto, de pé a observação de Baudelaire, tão explorada para efeitos literários, mas tão desprezada na realidade prática, segundo a qual "a pior manha do diabo é fazer acreditar que não mais existe". É muito de se louvar, por conseguinte, nesta hora do poder das trevas, mas em que o demônio toma as feições caricatas de um Mefistófeles de ópera bufa, o aparecimento de estudos sobre a ação diabólica no mundo, como estes que nos acaba de chegar às mãos:


"Satan dans la Cité", de autoria de Marcel de la Bigne de Villeneuve, Les Editions du Cèdre, 13, rue Mazarine, Paris.


Introduzindo o mal na Criação pelo seu orgulho e pela sua rebeldia, Lúcifer é o espírito fundamentalmente, enraizadamente negador, por oposição ao Bem, ao Existente, à Ordem impressa por Deus em todo o criado. Anjo das trevas, é o negador da luz que o Plano Divino encerra. De modo que não pode ter uma ideia clara e precisa dos caminhos de Deus, quem não leva em conta esse elemento perturbador, que é o que dá a característica de luta e de heroísmo à vida do homem sobre a terra.


A ação diabólica em nossos dias


Aí está porque nos interessa, no mais alto grau, conhecer o modo de agir do pai da mentira. E o aspeto capital deste pequeno livro é justamente o estudo da ação do príncipe deste mundo enquanto ela se dissimula sob a figura de pessoas morais, ou de instituições. Agindo sobre as inteligências e sobre as vontades, e assumindo as mais variadas formas em sua atividade infernal, porque o demônio haveria de desprezar esses tremendos instrumentos para a sua obra maléfica que são as instituições políticas, as sociedades secretas, os vários agrupamentos humanos que ditam as leis, o teor de vida e os costumes, que manipulam os processos modernos de propaganda, através dos quais pode inocular seu espírito perverso na sociedade humana em proporções nunca vistas? "É uma atitude que convém muito bem à sua alta inteligência, a utilização do gregarismo moderno para seus fins, e eis o diabolismo bem ao nível desse famoso progresso da ciência pelo qual se pretendia assegurar sua desaparição. Em lugar de proceder como um pequeno artesão, Lúcifer age presentemente como um grande industrial e prossegue em sua tarefa infernal em série, através dos mais aperfeiçoados instrumentos" (pag. 68).


Eis o que parece distinguir a época atual, que apresenta caracteres próprios de satanismo, que a diferenciam de outras quadras da historia da humanidade.


Com efeito, indaga o autor, que foi que mudou para provocar semelhante transbordamento do inferno sobre a terra? "O que mudou, é que em lugar de serem concebidas, como eram, apesar de suas imperfeições, ao tempo em que a filosofia do Evangelho governava os Estados, para refrear a malicia eterna dos homens, as instituições são atualmente concebidas para a excitar, para a exaltar; é que em lugar de remediar tanto quanto possam as faltas e os pecados das sociedades, elas os multiplicam e lhes agravam as consequências. E isto porque Satã nelas encontrou acesso, porque nelas se insinuou, incorporado em seu espírito ou mesmo em sua letra, porque ele colocou, sob as mais variadas formas, o Mal na raiz das instituições, apresentando-o como o Bem, fazendo acreditar ser ele o Bem, fantasiando a Desordem com as cores da Ordem e o Falso com os aspetos do Verdadeiro" (pag. 76).


A arma do igualitarismo


Ora, da Ordem existente na Criação, decorre uma hierarquia de valores também desejada por Deus, não somente no Céu, mas também na terra. De fato, os "homens e os anjos formam juntamente uma sociedade; de sorte que adequadamente se diga que as cidades, isto é, as companhias, não são quatro, a saber: duas de anjos e outras duas de homens, senão somente duas, fundadas uma nos bons e outra nos maus, não somente entre os anjos, mas também entre os homens" (Cidade de Deus, livro 12, cap. 1.o).


Pai do naturalismo e do liberalismo, por querer prescindir de Deus, em sua revolta contra a obra hierárquica da Criação, o demônio haveria de usar de modo predileto a terrível arma do igualitarismo, com que dentro da Cristandade alimentou gradativamente a restauração do paganismo religioso, do paganismo filosófico, do paganismo político. E, como coroamento de seu plano sinistro, se acha o mundo na véspera da última dessas restaurações, que é a restauração do paganismo socialista, que será o ponto de convergência de todas as conquistas revolucionarias destes últimos séculos.


Não será, assim, muito difícil entrever o aspecto unitário dessa trama daquele "que seduz todo o mundo" (Apoc. 12, 9) no sentido de colocar sob suas cadeias toda a sociedade humana, se conseguirmos vislumbrar o ciclópico funil em que se vão concentrar as variadas obras das diferentes instituições políticas e sociais que se espalham pelos quatro pontos cardeais. Isto se nota não somente pela evocação dos horrores dos campos de concentração da Alemanha nazista e da Rússia soviética, mas também nos demais processos não menos diabólicos porque o mundo caminha para o totalitarismo por vias "legais" e pacíficas. Eis um dos pontos em que não acompanhamos o autor, que deixa de perceber toda a malícia demoníaca do fascismo mesmo na fase em que o Duce ainda não se decidira a "se tornar um macaco de Hitler". O fascismo não passou de um dos disfarces do socialismo, de que também temos exemplo nos processos do trabalhismo fabiano, e no maquiavelismo que encobre a política social e econômica dos chamados países democráticos


A hora do príncipe das trevas


Estamos diante de um cerco sem precedentes na história do Ocidente cristão


"A luta entre os bons e os maus, diz o Santo Padre Pio XII, cujos costumes e ações em contínuos embates formam o entrechoque da história do gênero humano, raramente, e quem sabe se nunca, foi mais violenta do que em nossos dias" (Exortação aos Bispos de todo o mundo). Eis a tremenda realidade que os próprio católicos procuram afastar de suas cogitações e de que o autor de "Satan dans la Cité" nos dá o seguinte e impressionante quadro:


"Ah ! Se nós pudéssemos romper o invólucro das coisas! Se tivéssemos a clarividência sobrenatural da Serva de Deus Catarina Emmerich que, em suas visões da Paixão, discernia, sob formas palpáveis, os espíritos infernais que saiam dos corpos dos atores e das testemunhas do sombrio drama e que excitavam os verdugos em sua feroz tarefa! — Que pavor sentiríamos vendo enxames de demônios a saírem dos textos das Declarações dos Direitos do Homem e das Constituições heréticas ou ateias que nos regem e que nós de modo imbecil julgamos capazes de salvaguardar nossos direitos, de artigos de leis infames, de propósitos mentirosos de políticos, de cartazes e urnas eleitorais, a infestarem em massa as assembleias parlamentares, as Conferências Internacionais, a formigarem entre nossos próprios companheiros de armas, nossos supostos defensores e seus chefes, a perverterem, a aviltarem, a embrutecerem de mil modos os espíritos e as almas de nossos contemporâneos e os levarem, estimulando sua miserável vaidade, para os caminhos da perdição que terminam nas discórdias civis, nas dissensões, nas guerras e nos massacres! Que terror justificado nos avassalaria ao ouvirmos a legião infernal repetir sobre todos os pontos do globo e quase até a cada um de nós o "Si cadens adoraveris me...", e obter de fato a homenagem desta era de castigo e de furor de que a vidente de Dulmen colocava o início "cinquenta ou sessenta anos antes do ano dois mil", data na qual o selo do abismo deveria ser rompido e Satanás em pessoa haveria de quebrar as cadeias e se lançar sobre o universo! (pag. 180).


Diante deste quadro de uma hecatombe social de imprevisíveis consequências, que nos resta fazer? Confiar em Deus e combater, pois "não será coroado, senão aquele que tiver sabido combater heroicamente" (2 Tim 2,5).

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Fonte: Revista Catolicismo

https://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0017/P06-07.html


sábado, 27 de março de 2021

27 de Março – São Ruperto Bispo, Confessor



Primeiro bispo de Salzburg, contemporâneo de Childeberto III, rei dos Francos (695-711), a data de seu nascimento é desconhecida. De acordo com antiga tradição, ele descendia da família real Merovíngia franca, e dos rupertinos, uma importante família que dominava com o título de conde a região do médio e do alto Reno. Desta família nasceu também outro santo, São Roberto (ou Ruperto) de Bingen, cuja vida foi escrita por Santa Hildegarda. Os rupertinos eram parentes dos carolíngios, e o centro de suas atividades era Worms. Foi aí que São Ruperto recebeu sua formação de cunho monástico irlandês.

De acordo com a sua mais antiga biografia, ele era notado por sua simplicidade, prudência e temor de Deus, amava a verdade em seus discursos, tinha reta opinião, era cauto em seu conselho, enérgico em sua ação, liberal em sua caridade e, em toda sua conduta um glorioso modelo de retidão.

Quando Ruperto era bispo de Worms, a fama de seu saber e piedade atraíram-lhe pessoas de todos os quadrantes. Assim, notícia de suas qualidades chegou ao Duque Theodo II, da Baviera (625-716). É com esse duque que começa a história documentada desse país.

Theodo foi o primeiro a fazer projetos de desenvolvimento da Igreja bávara que, apesar do labor dos primeiros missionários, era apenas superficialmente católica, sendo o resto da população ainda pagã ou herética ariana.

Para essa empresa, o duque recorreu a quatro grandes missionários: São Ruperto de Salzburg, Santo Eraldo de Ratisbona, Esmerano de Ratisbona e provavelmente também São Corbiniano de Frisinga, para animar a evangelização do território, em aliança com a política papal. Era preciso fazer reviver, confirmar, e propagar de novo o espírito do Cristianismo. Isso porque muitos cristão tinha sido contaminados pelos costumes e modos de ser dos pagãos.

São Ruperto atendeu ao pedido de Theodo após ter-se familiarizado com a terra e o povo da Baviera. Foi recebido na antiga cidade de Ratisbona no ano de 696, com grande honra e cerimônia pelo Duque.

O santo pôs imediatamente mãos à massa, evangelizando com seus auxiliares, desde o território do Danúbio, até os limites da Panônia. Atingiu depois Lorch, para de lá se encaminhar para as isoladas margens do Wallersee, onde construiu uma igreja em louvor de São Pedro.

São Ruperto pediu a Theodo o território da antiga cidade romana de Juvavum, para a erigir nele um mosteiro e sua sede episcopal. Esse se tornou no mais antigo mosteiro da Áustria, e veio a ser justamente o núcleo de formação da nova cidade de Salzburgo.

Para essa obra São Ruperto teve o apoio de doze concidadãos, dois dos quais também se tornaram santos: Cunialdo e Gislero. Ao lado desse mosteiro, o santo fundou um outro feminino, que entregou à direção  de sua sobrinha, a abadessa Erentrudes. Desse modo o santo foi o responsável pela conversão da Baviera e da Áustria.

Depois de uma vida de extraordinária e bem sucedida atividade, o Santo morreu em Salzburgo – cidade que seria imortalizada pelo seu ilustre filho, Wolfgang Amadeus Mozart – auxiliado pelas preces de seus irmãos, no Domingo de Páscoa, 27 de março de 718.

Seu corpo repousou na igreja de São Pedro até 24 de setembro de 774, quando seu discípulo e sucessor, o abade-bispo São Virgílio, cedeu parte de seus restos mortais à catedral de Salzburgo.

São Ruperto é reconhecido como o fundador da bela cidade de Salzburgo, cujo significado é “cidade do sal”, sendo que ele aparece retratado com um saleiro na mão, por sua ligação com a própria origem e desenvolvimento da cidade. Foi seu primeiro bispo, e sua influência alastrou-se tanto, que é festejado não só nas regiões de língua alemã, como também na Irlanda, onde estudou, porque ali foi tomado como modelo pelos monges irlandeses.

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Fonte: IPCO

Ilustração: Vitral dedicado a São Ruperto, em 1529, de autor anônimo | Domínio Público


terça-feira, 16 de março de 2021

A Terceira Guerra Guerra

 


"No momento da abertura do Concílio, vejam! Agosto de 1962, o concílio começou em outubro de 1962. Então! Em plena confusão! A terceira guerra, como digo. Suportei a Guerra de 1914 - 1918, a guerra de 1939 - 1945 e a guerra de 1962 - 1965, do Concílio... E essa foi a pior no meu julgamento! A pior, a que mata as almas. Ela não mata somente corpos, mata as almas!" Dom Marcel Lefebvre

Retirado do livro "A PEQUENA HISTÓRIA DA MINHA LONGA HISTÓRIA" - Vida de Dom Lefebvre contada por ele mesmo.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Jesus em agonia por ti

A Agonia no Jardim do Getsêmani. 
Obra de Francesco Trevisani, ano 1740 
Domínio público | Wikimedia Commons


1. “E posto em agonia, orava Jesus com maior instância”. Por um lado Jesus receava a paixão; por outro desejava-a, combatendo o próprio medo. Muitas vezes terás de lutar contra a lei da carne, para que prevaleça a do espírito. Toma Jesus por teu exemplo. Quanto maior forem tua aflição e confusão, mais ardentemente deves rezar. Como rezas? Quantas vezes? Pedes, nas horas de calma do espírito, a indispensável força para as horas de desgostos e tentações? Lembra-te, no combate, que Deus te vê. Testemunha de teu proceder, reservar-te-á a coroa, se fores bom combatente.

2. “E veio-lhe um suor, como de gotas de sangue, que corria sobre a terra”.

Com santa comoção contempla o triste estado do Filho de Deus que por ti sofre. Tu estavas doente; Ele, derramando abundante suor de sangue, sarou-te do mal. Tu eras culpado; Ele sofre o castigo que te era devido. Como mostraste até hoje tua gratidão? Ou pertences, por acaso, aos ingratos? Por amor dEle não receies nem fadiga, nem suor, nem perda do próprio sangue, quando se tratar do seu serviço.


Breves Meditações Para Todos os Dias do Ano
Frei Pedro Sinzig, OFM,
Quarta Edição, 1921.


O JUÍZO PARTICULAR

 

O Comparecimento de um Pecador no Tribunal de Deus

Um criminoso fugido do cárcere – Numa cidade, em época de guerra, se achava num cárcere um homicida que esperava a sentença. Eis, no entanto, que os inimigos entram na cidade e saqueiam-na e põem-lhe fogo. O povo foge, e os encarcerados também fogem da prisão. Vendo-se livre, exclamou o homicida:

_ Desta vez meus inimigos estão bem liquidados!

_ Devagar! Ainda ficou um deles: o mais forte! – disse-lhe um bom sujeito.

_ Quem é?

_ É Deus. Tu, que és um assassino, não tens afinal Deus por inimigo? E desse inimigo, que é onipotente, não poderás fugir. Quando menos pensares nisso, Ele mandará o seu meirinho que é a morte, e esta levar-te-á ao seu tribunal, onde serás julgado.

Essas palavras abalaram o assassino, que se reconciliou com Deus mediante uma boa confissão; depois foi apresentar-se ao juiz terreno a fim de pagar o seu crime antes de comparecer ao Juiz eterno.

***

Queira Deus que a meditação do Juízo dê um abalo também em vós. Perante o tribunal de Jesus Cristo devemos todos comparecer para dar contas do que fizemos em vida, assim de bem como de mal: Omnes nos manifestari oportet ante tribunal Christi, ut referat unusquisque prout gessit, sive bonum sive malum (2 Cor 5,10).

Consideremos:

1 – O comparecimento de um pecador no Tribunal de Deus;

2 – O processo;

3 – A Condenação.

***

1 – O Comparecimento

1.1 – O Pensamento

“Está estabelecido que morram os homens uma vez; e depois disso o Juízo: Statutum est hominibus, semel mori; post hoc autem Judicium” (Hebr 9,27). Morrer não é nada: o que apavora é o que virá logo depois da morte, isto é, o Juízo.

Ao pensar nisso até os santos tremiam.

São Jerônimo – S. Jerônimo (+420) morava numa gruta no deserto, onde fazia grandes penitências; no entanto, quando pensava no Juízo, sentia gelar o sangue, e olhava apavorado em torno de si, pois lhe parecia que até as pedras o acusassem perante o divino Juiz.

São Cipriano – S. Cipriano, bispo de Cartago e mártir (+258), até entre jejuns e orações exclamava: “Ai de mim, quando for chamado a Juízo!”

Se assim temiam o Juízo os Santos, como o não deverá temer um pecador?

1.2 – A visita do Juiz

Assim que a alma tiver saído do corpo, achar-se-á diante de Jesus Cristo Juiz, sozinha, sem parentes, sem amigos, sem companheiros. Verá, então, subitamente como num espelho, todo o bem e o mal que tiver feito, pois o Senhor iluminá-la-á com a sua luz divina: Iluminabit abscôndita tenebrarum et manifestabit concilia cordium (1 Cor 4,5).

Que dirá e fará um pobre pecador diante disso? Ver pela primeira vez Jesus e vê-Lo indignado! Que terror ao achar-se diante de um Deus que sabe tudo, que vê tudo, até os pensamentos! “Ele descobre e revela as coisas mais ocultas, e conhece o que está nas trevas (Dan 2,22). Ele é o Senhor do Céu e da terra, e pode fazer tudo. Ele é Majestade tremenda. Ele é o Juiz severíssimo que julgará segundo as obras de cada qual (Ez 7,8). Ele julgará todos os atos por um! (Ecl 12,14); e também as menores coisas e até as palavras ociosas (Mt 12,36).

Quem poderá olhar de frente a esse Juiz? Quis stabit ad videndum eum? (Mal 3,2).

O sonho de um jovem – S. Vicente Ferrer conta de um jovem de má vida, que uma noite sonhou achar-se perante o Tribunal de Deus a fim de ser julgado. Ao ver pela primeira vez Jesus Cristo indignado contra ele e ao ouvir que ele pedia contas de toda a sua vida, foi tomado cabelos brancos.

Se o Juízo experimentado apenas em sonho mete tanto medo, que será depois na realidade?

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(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino - Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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Fonte: Mosteiro da Santa Cruz

15/03 – São Clemente Maria Hofbauer, Confessor

 

15 de Março
São Clemente Maria Hofbauer, Confessor
(+ Viena, 1820)

Ano passado se comemorou o bicentenário desse grande santo, falecido em 15 de março de 1820 e considerado “coluna da Igreja”, razão pela qual foi muito perseguido pelo clero progressista de sua época.

por Plinio Maria Solimeo

No dia 26 de dezembro de 1751 nascia em Tasswitz, na Morávia (então pertencente ao Império Austríaco), São Clemente Hofbauer. A riqueza de seus pais — os camponeses Pedro Paulo e Maria Steer — consistia em ser uma grande família com muita fé em Deus. Quinto dos 12 filhos do casal, Clemente perdeu seu pai aos seis anos de idade. Diante de um Crucifixo, sua mãe então lhe disse: “De agora em diante, este será teu único pai; procura seguir seus passos e levar uma vida conforme sua vontade santíssima”.

Deus o dotara de um coração extraordinariamente propenso ao bem, reto e sincero. Tinha um amor entranhado ao Sacramento da Eucaristia e à Santíssima Virgem, sendo o Rosário sua oração predileta. Completou o curso primário na escola local, enquanto ajudava a mãe no campo. Embora sentisse verdadeira vocação para o sacerdócio, a pobreza da mãe não permitiu que continuasse os estudos.

Dificuldades para a ordenação sacerdotal

Até ordenar-se sacerdote sua vida foi como a dos “rios chineses”, que normalmente só chegam ao mar depois de darem muitas voltas. Aos catorze anos tornou-se aprendiz de padeiro. Depois disso, sempre à espera de uma oportunidade para estudar, foi encarregado do refeitório dos padres premonstratenses de Bruck, onde concluiu o curso ginasial. Tornou-se eremita perto de Mulfrauen, voltando depois à profissão de padeiro, para retornar à vida eremítica, desta vez em Tivoli (Itália). Aos 32 anos, quando parecia que seu sonho nunca mais se realizaria, benfeitoras pagaram o seus estudos na Universidade de Viena. Mas como as leis anticatólicas do Imperador José II, “déspota esclarecido”, criavam obstáculo à sua ordenação na Áustria, voltou para a Itália, onde ingressou na recém-fundada Congregação do Santíssimo Redentor (redentoristas), nela recebendo a ordenação sacerdotal em 1786.

Na Polônia, corrupção e decadência religiosa

Nas horas de dificuldade ele se dirigia 
à igreja e batia na porta do sacrário, 
dizendo: “Senhor, agora é tempo de 
nos socorrer”. Depois desse ato de 
confiança, geralmente vinha o 
auxílio desejado.

São Clemente deveria introduzir a Ordem Redentorista nos países de língua alemã, entretanto não podia exercer seu apostolado na Áustria, pois o imperador José II, instigado por alguns ministros, baixara vários decretos em detrimento da Igreja Católica: suprimiu conventos, perseguiu religiosos e impediu o exercício livre do culto divino. Por isso, a pedido do Núncio Apostólico em Varsóvia, ele foi para a Polônia.

A situação social e religiosa desse país, afligido por contínuas guerras, era desastrosa. Abalada a fé, os costumes estavam dissolutos e a pobreza reinava. O santo escreveu nessa ocasião: “Escândalos e vícios atingiram seu auge, sendo difícil encontrar o caminho mais seguro e o modo mais eficaz de melhorar a situação. Desde o clero até o mais miserável mendigo, tudo se encontra corrompido. Temo muito que Deus descarregue algum golpe terrível sobre esta nação, que assim despreza suas graças e favores. Roguemos para que meus temores não se cumpram”. Mas eles se cumpriram à risca: em 1795 a Rússia, a Áustria e a Prússia repartiram entre si a desventurada Polônia. Em meio ao caos reinante, a Religião quase desapareceu.

O santo recebeu o encargo de cuidar da igreja de São Beno, dos alemães. A pobreza em que vivia a população era tão grande, que às vezes faltava o necessário para a própria subsistência. Nessas horas ele se dirigia à igreja e batia na porta do sacrário, dizendo: “Senhor, agora é tempo de nos socorrer”. Depois desse ato de confiança, geralmente vinha o auxílio desejado.

Grande conhecedor da psicologia humana, para atrair os fiéis ele se empenhava sobretudo em exercer as funções litúrgicas com muita pompa. E esclarecia: “As solenidades públicas atraem por seu esplendor, e aos poucos cativam o povo, que ouve mais com os olhos do que com os ouvidos”. Apesar da dificuldade financeira, encomendou paramentos belos e ricos. Recorria muito frequentemente à exposição solene do Santíssimo Sacramento, às procissões, novenas e tríduos. Ressuscitou associações tradicionais de piedade e criou outras, tanto para homens quanto para mulheres e crianças. Fundou uma espécie de Ordem Terceira dos redentoristas, os “oblatos”, entre os quais figuravam sacerdotes e pessoas de ambos os sexos, de todas as classes sociais. Tinha como finalidade promover e secundar o apostolado leigo e defender a Igreja, a Fé e a moralidade, com nota tônica na santificação pessoal de seus membros.

Detração em meio a grandes perseguições

Como as leis anticatólicas do Imperador José II, “déspota 
esclarecido”, criavam obstáculo à sua ordenação na Áustria, 
São Clemente voltou para a Itália.

Em pouco tempo as funções religiosas se tornaram concorridas, a ponto de nos domingos os fiéis não mais caberem na igreja. Postavam-se então no cemitério e ao longo das ruas,​de onde assistiam com piedade ao Santo Sacrifício da Missa.

Fundou também escolas para crianças, confiando-as a hábeis e virtuosos mestres formados sob sua vigilância. Difundia principalmente as obras de Santo Afonso de Ligório, contando para isso com a ajuda dos congregados marianos. Seus fogosos sermões exaltavam a beleza da religião verdadeira, combatiam o jansenismo, o protestantismo e os franco-maçons.

Seu exemplo começou a ser imitado em outras igrejas de Varsóvia, e mais tarde se pôde afirmar que a cidade se transformara completamente por seu influxo. As pessoas que frequentavam a igreja de São Beno pareciam viver num convento: faziam diariamente o exame de consciência e a meditação, e durante a Quaresma e o Advento se recolhiam na solidão para o retiro espiritual.

Mas os maus — tanto nas fileiras do clero como na sociedade civil — não suportam que o bem se expanda, e os redentoristas foram atingidos por uma campanha orquestrada de detração, cujo auge foi em 1800. Sobre isso ele escreveu: “Os jacobinos espalham contra nós toda sorte de invencionices. Somos escarnecidos nos teatros públicos, o próprio clero está contra nós, exceto o Bispo e alguns cônegos. Somos publicamente ameaçados com a forca. Uns prostravam-se diante de mim para me beijar os pés, outros me cobriam de lama; aqueles exageravam na honra, e estes no desprezo. Sofri na Polônia coisas que só serão manifestadas no dia do Juízo Final”.

Ao saber que os redentoristas haviam sido expulsos da Baviera sob a falsa alegação de “terem conspirado contra a paz e a tranquilidade públicas, fanatizando o povo, indispondo-o com o governo e o clero”, o comandante militar de Varsóvia enviou a Napoleão essas mesmas acusações contra os padres de São Beno. O Imperador mandou então expulsá-los da Polônia, “por serem eles o renascimento dos jesuítas”, tidos como os religiosos mais contra-revolucionários do tempo.

Em 1813 São Clemente se tornou diretor espiritual das Irmãs Ursulinas 
de Viena e responsável pela igreja de Santa Úrsula

Promoção do culto divino em Viena

A campanha de difamação foi bem sucedida, e redundou na expulsão dos redentoristas. Procurando lugar seguro para fundar o ramo alemão de sua Ordem, São Clemente peregrinou incansavelmente de cidade em cidade, sendo expulso de todas elas até chegar a Viena, sua última tentativa. Aí lhe foi imposto o mais rigoroso silêncio, tanto no púlpito quanto no confessionário. Só uma coisa podia fazer, e o fez com fervor: rezar!

O ímpio Napoleão, em sua marcha vitoriosa, havia conquistado a própria capital do império austríaco. Mas não se demorou ali, pois o arquiduque Carlos surgiu em socorro de Viena. Sabendo São Clemente que a sorte de sua pátria dependia daquela batalha, correu para junto do tabernáculo e rezou fervorosamente pela vitória do arquiduque. Sua oração foi ouvida. Animados com o valor de seu comandante, os soldados austríacos o seguiram entusiasmados, e em pouco tempo o campo de batalha estava em poder dos austríacos. No último ataque de Napoleão, o desespero apoderou-se da sua tropa, tendo sido esta sua primeira derrota.

Os feridos das batalhas chegavam em massa à capital, alastrando-se a febre tifoide. O Arcebispo de Viena convocou o clero para o cuidado espiritual e material dos enfermos e pediu a São Clemente que atendesse principalmente os soldados franceses e italianos. Quando o ambiente voltou à normalidade, o santo foi nomeado coadjutor da igreja dos italianos, onde pôde exercer plenamente suas funções religiosas. Um número crescente de vienenses começou então a agrupar-se em torno de seu confessionário e púlpito. Ele pregava esporadicamente em outras igrejas de Viena, e seu nome começou a ser pronunciado com admiração e amor também nas altas rodas da sociedade. Isso ficou ainda mais saliente em 1813, quando ele se tornou diretor espiritual das Irmãs Ursulinas de Viena e responsável pela igreja de Santa Úrsula.

Os católicos de Viena foram aos poucos se edificando com o seu procedimento, sobretudo nos momentos de oração, quando nele resplandecia algo de extraordinário e divino. Enalteciam com admiração seu porte e sua santidade incomum, admiração que não se limitava ao povo simples, mas atingia as pessoas altamente colocadas.

A beleza das cerimônias

Como em Varsóvia, ele cercou de esplendor o culto divino: muitas velas, flores, incenso, cânticos e tudo que podia contribuir para o esplendor das funções. Não conhecia economia, quando se tratava de honrar Deus Nosso Senhor, a Virgem ou os santos. Convidava outros sacerdotes para aumentar o brilho das cerimônias de Santa Úrsula, e assim o templo tornou-se pequeno para multidão cada vez maior. Havia muitos anos não se viam cerimônias como aquelas.

Relíquia de São Clemente

Para São Clemente, a devoção a Nossa Senhora unia-se à do Santíssimo Sacramento. Em uma época em que até teólogos pré-progressistas julgavam válido impugnar o culto “excessivo” a Maria Santíssima, ele se destacou como o “padre que benze terços”. Considerava o Rosário a sua “biblioteca” através da qual conseguia tudo que pedia a Deus. Impôs aos Oblatos o dever de defender sempre o Rosário, sobretudo quando esse fosse escarnecido pelos hereges ou assemelhados.

Sem importar-se com as proibições do josefismo — mesmo porque o próprio irmão do Imperador frequentava a igreja e participava das cerimônias — o exemplo de Santa Úrsula contagiou outras igrejas da cidade, que passaram a emular-se no esplendor do culto divino. O apostolado do belo se fazia de modo exímio. Atraídos pela beleza da música na liturgia, os protestantes também passaram a frequentá-la, e não poucos se converteram ouvindo aqueles sermões cheios de unção e erudição. Numerosos judeus também se apresentaram, pedindo o batismo. Até mesmo libertinos, que para lá se dirigiam com o intuito de zombar, termina­vam sendo conquistados. Pediam-lhe que os confessasse, e não raro o próprio ingresso na Congregação.

Influenciando o Congresso de Viena

Os sermões de São Clemente eram simples. Lia o Evangelho, e entre uma sentença e outra ia explicando um dogma da fé ou um mandamento. Confrontava então os costumes em voga e as ideias do tempo com os princípios do Evangelho. Exortava todos, sempre com palavras eloquentes e convincentes, a se converterem e praticarem a virtude. Embora não fosse orador, empolgava como nenhum outro pregador em Viena, pois a verdadeira santidade atrai.


Realizava-se nessa ocasião o Congresso de Viena, convocado para reparar as calamidades provocadas pelas guerras napoleônicas e traçar o futuro da Europa. São Clemente esperava muito desse congresso, porque de seu resultado dependia a prosperidade da Religião no Velho Mundo. Exercia muita influência sobre alguns de seus participantes, com os quais confabulava e discutia diariamente as propostas que iriam apresentar. Até o Príncipe da Baviera pedia seus conselhos, tendo em certa ocasião conferenciado com ele das oito da noite às duas da madrugada. Enquanto isso, outros discípulos de São Clemente preparavam a opinião pública por meio de artigos nos principais jornais de Viena, expondo com clareza o que ouviam dele.

Ao mesmo tempo, alguns dos sacerdotes que o seguiam foram incumbidos de no decurso do Congresso pregar nas igrejas de Viena sobre os pontos religiosos em discussão, orientando o povo e preparando os ânimos. Seu hagiógrafo afirma: “Se São Clemente não conseguiu tudo o que desejava do Congresso, teve a glória de salvar a Áustria do cisma que a ameaçava, e de destruir por completo os planos de separação excogitados e defendidos pelo poderoso Wessenberg. Essa vitória foi uma das mais gloriosas que São Clemente alcançou em vida”.*

São Clemente faleceu no dia 15 de março de 1820, há exatos 200 anos, no momento em que os sinos tocavam o Angelus. Nesse mesmo dia o Imperador Francisco I assinou o decreto permitindo e aprovando a Congregação dos Redentoristas para a Áustria. Realizava-se assim a profecia do santo: “É preciso primeiro que eu morra, só depois a Congregação se expandirá”. Ao receber a notícia do passamento de São Clemente, o Imperador exclamou: “Isto é duplamente doloroso para mim e meu povo, bem como para toda a Cristandade, porque ele era a coluna da Igreja”.

Foi beatificado por Leão XIII e canonizado por São Pio X em 20 de maio de 1909.

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* Utilizamos como fonte bibliográfica para este artigo principalmente o excelente livro do Pe. Oscar Chagas Azeredo, São Clemente Maria Hofbauer. Edição da Livraria Nossa Senhora Aparecida, Oficinas Gráficas Santuário de Aparecida, 1928, do qual extraímos as citações transcritas entre aspas.

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Fonte: IPCO

sábado, 13 de março de 2021

13/03 – Santos Rodrigo e Salomão, mártires


No dia 11 vimos a vida de Santo Eulógio, pertencente ao clero de Córdoba, ao qual pertencia também outro sacerdote, Rodrigo, que foi do mesmo modo preso pelos islamitas e martirizado, mais ou menos pela mesma época. Santo Eulógio escreveu o relato de seu martírio.

Córdoba era uma cidade em muitos pontos importante pelo nascimento de Sêneca, Lucano, Averróis, Gôngora. Foi tomada dos visigodos pelos árabes em 771, e atingiu no século X seu apogeu cultural. Foi reconquistada pelo glorioso São Fernando III de Castela, o Santo, em 1236.

Rodrigo era um piedoso sacerdote, cumpridor dos deveres, e  exemplo para os cristãos que viviam oprimidos sob o jugo muçulmano.

Desejando acrisolar sua virtude, o Senhor permitiu que um dia, numa briga entre seus dois irmãos, um católico e outro muçulmano, ele interviesse para acalmar os ânimos. O irmão muçulmano enfureceu-se, e o atacou tão violentamente infringindo-lhe tantas feridas, que ele perdeu os sentidos. O agressor divulgou então malevolamente por toda a cidade que Rodrigo se apartara da religião de Jesus Cristo. Como ele era muito conhecido nos meios católicos, isso provocou muito falatório.

Esperando que os ânimos se acalmassem para se justificar, Rodrigo retirou-se para uma serra, onde passou a levar vida de contemplativo. Num dia em que ele foi à cidade para se prover de alimentos, seu irmão muçulmano o viu e, vomitando ódio, o denunciou ao juiz de sua seita.

Rodrigo foi preso e julgado. Confessou então abertamente que “nasci cristão, e cristão hei de morrer”. O seguidor de Mafoma não quis ouvir mais nada, e o mandou para a enxovia.

Nela esse confessor da fé  encontrou outro cristão, Salomão, preso também por ódio à fé. Dele não temos outra notícia que o martírio.Uma estreita amizade se estabeleceu entre os dois, que fizeram a promessa de morrer juntos pelo sacrossanto Nome de Jesus Cristo. Converteram então sua cela no cárcere em oratório, onde bendiziam a Deus.

Sabendo disso, o juiz mandou separá-los. Dias depois, como foram baldados todos os esforços para os fazer renegar a fé, condenou-os à morte.

Os dois confessores foram conduzidos ao lugar do suplício à beira de um rio, onde confessaram de novo serem cristãos, e que morriam pela Fé católica, apostólica e romana. Puseram-se então de joelhos, abraçaram-se a um Crucifixo, e entregaram o pescoço aos verdugos, que lhes decepou a cabeça. Era o ano de 837.

Esses dados chegou até nós pelo Memorial de Santo Eulógio, obra que este santo escreveu em Córdoba em 852, mesma cidade em que Rodrigo e Salomão tinham sido mortos 15 anos antes.


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Fonte: IPCO
Ilustração: Obra do pintor Esteban Murillo (1618 - 1682). Atatualmente se encontra na Pinacoteca dos Mestres Antigos (Gemäldegalerie Alte Meister), um importante museu de arte da Alemanha, localizado em Dresden e instalado na ala Gottfried Semper do palácio Zwinger.

sexta-feira, 12 de março de 2021

12/03 – Santo Inocêncio I, Papa e Confessor

Santo Inocêncio I, Papa e Confessor
40º Papa da Igreja Católica
 
Desse papa nascido no século IV, também nada se sabe de sua vida antes de ser eleito para a Sé de Pedro. Segundo o Liber Pontificalis ele nasceu em Albano, e seu pai chamava-se Inocêncio. Não sabemos o seu nome antes de ser elevado ao papado. Ele cresceu entre o clero romano e no serviço da Igreja. Nesse tempo governava a nave de Pedro o papa Santo Anastácio I, romano por nascimento, que havia ficado papa em 399. Com a sua morte em 401, o filho de Inocêncio foi unanimemente escolhido para sucedê-lo tomando o nome de seu pai como Inocêncio I.
 
Lembrado principalmente por sua condenação do Origenismo, o futuro papa tinha entre seus amigos Santo Agostinho, São Jerônimo e São Paulino de Nola. São Jerônimo fala dele como de homem de grande santidade, “rico em sua pobreza”.
 
Este Papa viveu numa época muito conturbada pelas invasões bárbaras, e governou a Igreja até 417.
 
Ardoroso defensor das prerrogativas papais, Santo Inocêncio assegurou ao bispo de Tessalônica a preeminência sobre os outros bispos da Ilíria oriental, continuou a obra de São Cirício na organização da disciplina eclesiástica (celibato eclesiástico, administração dos Sacramentos e jurisdição dos sínodos provinciais), e procurou, embora em vão, estabelecer a paz entre o fraco imperador Honório e Alarico, rei dos godos, intervindo em favor de São João Crisóstomo exilado.
 
Quando cinco bispos africanos, entre eles Santo Agostinho, lhe escreveram uma carta relativa às suas posições em matéria do Pelagianismo, o Papa, em sua resposta, louvou-os porque, respeitando a autoridade da Sé Apostólica, apelavam ao Papa. Nela rejeitou os ensinamentos de Pelágio, e confirmou as decisões tomadas pelos sínodos africanos.
 
Também vê-se sua influência num drástico decreto que o imperador Honório lançou em Roma, em 22 de fevereiro de 407, contra os hereges maniqueus, montanistas e priscilianos.
 
Devido à munificência de uma rica matrona romana, Vestina, Inocente pôde construir e decorar ricamente uma igreja dedicada aos Santos Gervásio e Protásio.
 
Como mencionamos de passagem, foi durante seu pontificado que ocorreu o cerco e a captura de Roma pelos godos sob Alarico (408-410). Quando o líder bárbaro declarou que só se retiraria se os romanos apresentassem uma proposta de paz que lhe fosse favorável, o Sumo Pontífice liderou uma embaixada de seus concidadãos que foi até o imperador Honório, em Ravena, para tentar, se possível, que ele fizesse a paz com os godos.
 
Entretanto, apesar de todos os esforços de Inocêncio, ele não foi ouvido. Os bárbaros recomeçaram então o cerco de Roma, de modo que o Papa e os outros embaixadores não puderem retornar à Cidade Eterna, que foi tomada e saqueada em 410.
 
O Papa Inocêncio faleceu no ano 417, e foi sepultado numa basílica sobre a catacumba de Pontiano, e desde logo venerado como santo. Ele foi homem enérgico e ativo, e altamente dotado como governante, cumprindo admiravelmente os deveres de seu ofício.
 
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Fonte: IPCO
Ilustração: Retirado das ilustrações da Crônica de Nuremberg (1493). Clique aqui para ver o texto completo da publicação original.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Em Defesa dos Fiéis que frequentam a Igreja dos Polacos


Essas pessoas estavam ajoelhadas do lado de fora da Igreja porque elas não puderam entrar para assistir a missa, já que foi reduzido, por decreto, o número de pessoas em culto religioso. Mas elas assistiram a missa do lado de fora e o padre deu a Eucaristia para elas. Perceba que essas pessoas se ajoelharam depois que receberam a Sagrada Comunhão. Esse ato somente um católico é capaz de compreender. Mas o fato é que esse jornal publicou uma matéria muito medíocre, dando a entender que essas pessoas estavam ajoelhadas protestando contra o decreto. A publicação no facebook atraiu gente de toda espécie, fazendo comentários dos mais absurdos contra a Igreja e contra os católicos.


No comentário acima, o Guilherme, leitor do jornal, no Facebook, marcou o meu nome e o que ele disse me levou à resposta abaixo:

Em defesa dos fiéis que frequentam a Igreja dos Polacos



Guilherme, louco é alguém que sofre de distúrbio mental grave. É uma enfermidade que causa incapacidade mental de agir, de sentir ou de pensar de acordo com a realidade concreta, ou seja, é uma insanidade mental. Mas você está classificando um grupo de fiéis como sendo portadores dessa patologia pelo simples fato de que eles estão seguindo costumes que estão presentes na Igreja desde a sua origem.

Meu caro, você pode até não apreciar o costume tradicional da Igreja, porém não é justo que se refira a essas pessoas dessa maneira. 

Entre os bens exteriores, a fama e a honra são os mais preciosos e os mais caros. Quem tira injustamente a boa fama ao seu próximo, além do pecado que comete, está obrigado à restituição proporcionada à natureza, qualidade e circunstâncias da detração causada.

A maledicência é uma espécie de assassinato e o maledicente torna-se réu de um tríplice homicídio espiritual: o primeiro diz respeito ao próprio detrator e o segundo à alma da pessoa com quem ele fala; e o terceiro diz respeito à pessoa de quem se deturpa o bom nome. São Bernardo diz, por isso, que os que cometem a maledicência e os que a escutam tem o demônio no corpo; aqueles na língua e estes no ouvido, e David, falando dos maledicentes, diz: Aguçaram a sua língua como a das serpentes, querendo significar que, à semelhança da língua da serpente, que, como observa Aristóteles, tem duas pontas, sendo fendida no meio, também a língua do maledicente fere e envenena o coração daquele com quem está falando e a reputação daquele sobre quem se conversa.

Jamais devemos dizer uma coisa dessa de nossos irmãos. É nosso dever guardar-nos conscientemente de injuriar o próximo, de revelar os defeitos ocultos, de aumentar os já conhecidos, de interpretar mal as boas obras, de negar o bem que sabemos que alguém possui ou de atenuá-lo por nossas palavras; tudo isso ofende muito a Deus, de modo particular o que encerra alguma mentira, contendo então sempre dois pecados: o de mentir e o de prejudicar o próximo.

O uso do véu


Em sua fala você se refere ao “povo do véu”. Eu gostaria de fazer algumas considerações a respeito desse assunto.

O uso do véu, também chamado de mantilha, é costume da Igreja desde sua instituição. São Paulo indaga sobre essa questão em I Coríntios, 11:13: "Julgai vós mesmos: é decente que uma mulher faça oração a Deus, não tendo véu?". Logo em seguida, do versículo 15 ao 16, São Paulo conclui: "é glória para a mulher deixá-los [os cabelos] crescer; porque os cabelos foram-lhe dados como véu (para se cobrir) e, se alguém quiser contestar (o que digo), (fique sabendo que) nós não temos tal costume, nem a igreja de Deus."


Perceba, meu caro, que se trata de uma questão de costume que já existia na origem da Igreja e que nunca foi abolido.

Há várias razões que aconselham o uso desse sacramental.

Quando uma mulher cobre sua cabeça na Igreja, simboliza sua dignidade e humildade diante de Deus. A mulher que cobre sua cabeça na presença do Santíssimo Sacramento está lembrando para si mesma que diante de Deus deve-se ser humilde.


Espero que a leitura não se torne cansativa, mas talvez você tenha essa má impressão por não compreender o valor desse sacramental ou também por uma outra razão que pretendo tratar mais adiante.

O véu cobre o que o Senhor, na Sagrada Escritura, chama de “a glória da mulher”: o seu cabelo. Cobrir seus cabelos é um gesto que a mulher faz espiritualmente para “mostrar” a Deus que reconhece que sua beleza é menor que a d'Ele e que a glória d'Ele está muito acima da sua, simbolizando assim sua vontade de manter-se velada para que só Deus seja glorificado. O véu simbolicamente motiva a mulher a “inclinar” a cabeça em oração, a abaixar o olhar diante da grande e misteriosa beleza e poder de Deus no Santíssimo Sacramento. Pela inclinação da cabeça e pelo abaixar dos olhos, ela está mais apta a adorar a Deus na capela interior do seu coração: sua alma.

O véu que a mulher usa confere-lhe um belo senso de dignidade. Quando ela o usa, identifica-se com a maior criação de Deus, a Bem-Aventurada e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus.


As mulheres devem perceber que a imitação de sua Mãe Santíssima, pelo uso do véu e por outras virtudes, é um pequeno sacrifício a ser feito a fim de crescer na compreensão espiritual da fé, na submissão e no amor.

O piedoso uso do véu pela mulher na Igreja é um surpreendente lembrete de modéstia, edificante não só para quem o usa, mas também para todos os que o notam.

Na Liturgia, cobre-se delicadamente a dignidade de seus diversos elementos: o véu frontal que cobre o Sacrário, o véu que cobre o cálice e o cibório, a toalha branca que cobre o altar, a casula que cobre o sacerdote que oferece o Santo Sacrifício da Missa.

Assim é o véu que cobre a mulher, chamada a ser, pela Sagrada Comunhão, de forma especial, como a doce e bela Virgem Maria: Sacrário vivo do Corpo de Deus. Por fim, cumpre relembrar que o uso do véu pela mulher na Igreja é um costume de origem apostólica. Tais costumes têm força de lei para o Direito Canônico, ainda que o atual código silencie quanto à obrigatoriedade do uso.

Como funciona na prática?



Pode-se usá-lo como sacramental após recebida a devida bênção sacerdotal. Não há uma regra sobre a cor, mas costuma-se usar branco (ou outras cores mais claras) para as moças solteiras e preto (ou outras cores mais escuras) para as senhoras casadas ou viúvas. Os véus coloridos não são proibidos, mas deve-se usar de bom senso e evitar cores que chamem a atenção e distraiam os fiéis durante a Missa. O uso do véu é recomendado na recepção dos sacramentos, na visita ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia e na prática dos diversos atos de piedade e oração privados ou públicos.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “quase não há uso honesto de coisas materiais que não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus.” (§1670). O uso do sacramental não é essencial à salvação, mas um auxílio. 

Como disse acima, o Código de Direito Canônico não obriga mais as mulheres ao seu uso, porém é recomendado como uma prática de piedade.


É muito importante que um sacramental seja praticado pelas razões certas, ou seja, para o crescimento espiritual do praticante. Superstição, vaidade, nada disso são razões válidas para se usar o véu. 

Voltando ao conceito de sacramental, é importante a atitude honesta diante de Deus, e o uso honesto de coisas materiais, de modo a ordená-las para a finalidade de glorificar a Deus. O uso do véu tem a finalidade de levar a mulher a desenvolver atitudes próprias de humildade e adoração a Jesus, da mesma forma que o uso do escapulário é uma devoção que promove a piedade.

Por fim, a Igreja, mãe generosa, oferece vários meios de prover a essas necessidades espirituais através de suas muitas formas de devoção e uso dos sacramentais, que, se utilizados corretamente, levam o fiel à maturidade espiritual.

A Missa de Sempre



Você também comentou sobre o povo da “Missa de Sempre”. Aproveito a ocasião para discorrer sobre este assunto, que me parece bem oportuno.

A “Missa de Sempre” à qual você se refere é a missa que foi codificada pelo Papa São Pio V, durante o infalível Concílio de Trento, através da Bula “Quo Primum Tempore”, com publicação em 14.07.1570.

Por que ela é conhecida, entre outros nomes, como Missa de Sempre?


A Bula “Quo Primum Tempore” menciona a palavra “Sempre” 4 vezes e vou destacá-las, em caixa alta, com a frase onde ela se encontra para a melhor compreensão:

1. “E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro E PARA SEMPRE, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por Nós, em todas as Igrejas.”

2. “Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por Nossa presente Constituição, que SERÁ VÁLIDA PARA SEMPRE, Nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao Nosso presente Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem modificado.”

3. “Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura, E ISTO PARA SEMPRE.”

4. “Da mesma forma decretamos e declaramos que os Prelados, Administradores, Cônegos, Capelães e todos os outros Padres seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por Nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal, e a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, MAS PERMANECERÁ SEMPRE firme e válida, em toda a sua força.”

Conforme acima exposto é possível compreender as razões pelas quais essa missa é também conhecida como “Missa de Sempre.

Sabemos que conservar o Rito Romano não é uma questão puramente de estética, de conservadorismo, mas de zelar pela natureza própria da Liturgia milenar, que remonta à comunidade primitiva. 


Ao aplicar a Constituição Sacrosanctum Concilium do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI, assistido por uma comissão de cardeais, bispos e peritos (o Consilium ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia), criou uma nova edição do Missal Romano, promulgada com a Constituição Apostólica Missale Romanum de 3 de abril de 1969 e que entrou em vigor em 30 de novembro sucessivo, início do novo Ano Litúrgico. Com isso o novo missal tornou-se a forma ordinária para a celebração da Missa segundo o rito romano na Igreja pós conciliar.

Da esquerda para direita: Dr. George; Canon Jasper; Dr. Shephard; 
Dr. Konneth; Dr. Smith; e Irmão Max Thurian (de branco) 
ao lado do Papa Paulo VI (de branco).

Além dos membros da comissão que contribuíram com a elaboração do novo missal, houve o contributo ecumênico de seis pastores protestantes: Dr. George; Canon Jasper; Dr. Shephard; Dr. Konneth; Dr. Smith; e Irmão Max Thurian. Eles representavam as seguintes organizações: Conselho Mundial das Igrejas, Igreja da Inglaterra, Igreja Luterana e a Comunidade de Taizé.

Antes da publicação do "Novus Ordo Missae" (Novo Ordinário da Missa), o Missal Romano previa a celebração da Missa tridentina (Missa de Sempre), que era a forma ordinária do rito romano desde 1570. No entanto, é preciso ter bem presente que a Missa Tridentina não foi abolida e nunca foi proibida pela Igreja. O que aconteceu foi o surgimento de um novo missal a ser utilizado, por desejo do papa, mas sem a extinção do Missal de São Pio V. Aliás, o Papa Bento XVI através do Motu Proprio “Summorum Pontificum” tratou sobre essa questão.


“Quanto ao uso do Missal de 1962, como Forma extraordinária da Liturgia da Missa, quero chamar a atenção para o fato de que este Missal nunca foi juridicamente ab-rogado e, consequentemente, em princípio sempre continuou permitido.” (7 de julho de 2007 - Carta do Santo Padre Bento XVI aos bispos que acompanha o "motu proprio" Summorum Pontificum sobre o uso da Liturgia Romana anterior à reforma realizada em 1970)


Perceba que o Papa Bento XVI fala do Missal de 1962 e não do Missal de 1570. Trata-se da mesma missa, que tinha passado por uma pequena reforma no pontificado do Papa João XXIII.

Pode lhe parecer estranho o fato de surgirem jovens tão interessados nas antigas tradições católicas. Mas é salutar que veja isso com bons olhos, considerando que esses jovens estão buscando as riquezas que a Igreja tem disponível para a santificação de suas almas, ainda mais nos tempos de hoje, em que vemos um número assustador de pessoas que estão se desviando cada vez mais dos valores cristãos. 

O curioso é que em Ponta Grossa não existe nenhum sacerdote que reze regularmente a Missa Tridentina, mesmo tendo um número tão expressivo de fiéis que a desejam ardentemente. Fico pensando quanto bem faria à diocese ter uma capela onde os fiéis que apreciam essa missa pudessem ter a oportunidade de frequentá-la. Afinal de contas, que mal há em assistir uma missa que deu tantos santos para a Igreja ao longo dos últimos 4 séculos?

Mas e se houver algum problema? 


Problemas teremos sempre, pois o homem é cheio de vaidades, e por vezes pode aparecer uma coisa ou outra a ser resolvida, e para isso existe o bispo, cuja função é pastorear o seu rebanho. Pensando nisso, o Papa Bento XVI, na Carta aos bispos que acompanha o “Motu Proprio Summorum Pontificum” ressalta o seguinte: “Por conseguinte, nada se tira à autoridade do Bispo, cuja tarefa, em todo o caso, continuará a ser a de vigiar para que tudo se desenrole em paz e serenidade. Se por hipótese surgisse qualquer problema que o pároco não pudesse resolver, sempre poderia o Ordinário local intervir, mas em plena harmonia com quanto estabelecido pelas novas normas do Motu Proprio.”

O Papa Paulo VI no Decreto “Christus Dominus” sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja, publicado em 28 de Outubro de 1965, diz o seguinte: 

“No exercício do seu múnus de pais e pastores, comportem-se os Bispos no meio dos seus como quem serve, como bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos como verdadeiros pais, que se distinguem pelo espírito de amor e de solicitude para com todos, de modo que todos se submetam facilmente à sua autoridade recebida de Deus. Reúnam à sua volta a família inteira da sua grei e formem-na de tal modo que todos, conscientes dos seus deveres, vivam e operem em comunhão de caridade.

Para conseguirem este objetivo, os Bispos, «preparados para toda a obra boa» (2 Tim. 2,21) e «suportando tudo por amor dos eleitos» (2 Tim. 2,10), orientem a sua vida de maneira que ela corresponda às necessidades dos tempos.”

“Para poderem atender melhor ao bem dos fiéis, segundo a condição de cada um, procurem conhecer-lhes bem as necessidades, dentro das circunstâncias sociais em que vivem, recorrendo aos meios convenientes, sobretudo à investigação social. Mostrem interesse por todos, de qualquer idade, condição ou nacionalidade que sejam, quer pelos naturais da terra, quer pelos adventícios e peregrinos. No exercício desta solicitude pastoral, respeitem a parte que pertence aos seus fiéis em matéria eclesiástica, reconhecendo-lhes também a obrigação e o direito de colaborar ativamente na edificação do Corpo místico de Cristo.”

Minha resposta se tornou demasiadamente longa, porém necessária para esclarecer alguns pontos. Não gostaria de me estender demais, porém ainda tenho algumas coisas que gostaria de comentar e tentarei ser breve, para encerrar com uma reflexão de Pio XII.

Sobre o modo de receber a Santa Eucaristia


Em 25 de março do 2004 a Congregação Para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou, por ordens do Papa João Paulo II, a Instrução "Redemptionis Sacramentum" Sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia.

Nesse documento está determinado o seguinte:

«Os fiéis comunguem de joelhos ou de pé, de acordo com o que estabelece a Conferência de Bispos», com a confirmação da Sé apostólica. «Quando comungarem de pé, recomenda-se fazer, antes de receber o Sacramento, a devida reverência, que devem estabelecer as mesmas normas».

«Na distribuição da sagrada Comunhão se deve recordar que «os ministros sagrados não podem negar os sacramentos a quem os pedem de modo oportuno, e estejam bem dispostos e que não lhes seja proibido o direito de receber». Por conseguinte, qualquer batizado católico, a quem o direito não o proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé.»

«Todo fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na boca ou se, o que vai comungar, quer receber na mão o Sacramento. Nos lugares aonde a Conferência de Bispos o haja permitido, com a confirmação da Sé apostólica, deve-se lhe administrar a sagrada hóstia. Sem dúvida, ponha-se especial cuidado em que o comungante consuma imediatamente a hóstia, na frente do ministro, e ninguém se desloque (retorne) tendo na mão as espécies eucarísticas. Se existe perigo de profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão.»

«A bandeja para a Comunhão dos fiéis se deve manter, para evitar o perigo de que caia a hóstia sagrada ou algum fragmento.»

«Não está permitido que os fiéis tomem a hóstia consagrada nem o cálice sagrado «por si mesmos, nem muito menos que se passem entre si de mão em mão». Nesta matéria, além disso, deve-se suprimir o abuso de que os esposos, na Missa nupcial, administrem-se de modo recíproco a sagrada Comunhão.»

Creio que com as diretrizes expostas acima, não ficará dúvidas quanto ao modo de receber a Sagrada Comunhão.

Conforme eu disse acima, não pretendia tornar tão longa esta missiva, mas ainda faltam 4 pontos e eu tentarei abreviar as palavras.

Conservadores e Monarquistas

Em Mateus 11, 28-30, Jesus diz: «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos, e Eu aliviar-vos-ei [...] Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis o repouso para as vossas almas» (vv. 28-29). Perceba que Nosso Senhor está disposto a receber todos aqueles que queiram aproximar-se dele. 

Aqui você trouxe um assunto que demandaria muito tempo e que não é o caso nesse momento, então eu serei breve.


Sobre Monarquia, república e Religião, o Papa Leão XIII deixou claro, ao falar das diversas formas de governo, que "cada uma delas é boa, desde que saiba caminhar retamente para seu fim, a saber, o bem comum, para o qual a autoridade social é constituída".


Muitos acusam a Monarquia como sendo uma forma essencialmente incompatível com a dignidade humana e a ordem normal das coisas. É o erro condenado por São Pio X na Carta Apostólica “Notre Charge Apostolique”, de 25 de agosto de 1910. Nela censura o grande e santo Pontífice a tese do movimento "Sillon", de que "só a democracia inaugurará o reino da perfeita justiça", e exclama: "Não é isto uma injúria às outras formas de governo, que são rebaixadas, por esse modo, à categoria de governos impotentes, aceitáveis à falta de melhor?".


“Sem este erro, inviscerado no processo de que falamos, não se explica inteiramente que a monarquia, qualificada pelo Papa Pio VI como sendo em tese a melhor forma de governo – "praestantioris monarchici regiminis forma --, tenha sido objeto, nos séculos XIX e XX, de um movimento mundial de hostilidade que deu por terra com os tronos e as dinastias mais veneráveis. A produção em série de repúblicas para o mundo inteiro é, a nosso ver, um fruto típico da Revolução, e um aspecto capital dela.”, afirmou Plínio Corrêa de Oliveira.


“Desse ódio antimonárquico e antiaristocrático, nascem as democracias demagógicas, que combatem a tradição, perseguem as elites, degradam o tonus geral da vida, e criam um ambiente de vulgaridade que constitui como que a nota dominante da cultura e da civilização, ... se é que os conceitos de civilização e de cultura se podem realizar em tais condições.” (Plínio Corrêa de Oliveira).

O próprio Papa Pio XII se pronunciou sobre a democracia, mas uma democracia que diverge completamente desta democracia revolucionária:


"Segundo o testemunho da História, onde reina uma verdadeira democracia a vida do povo está como que impregnada de sãs tradições, que é ilícito abater. Representantes dessas tradições são, antes de tudo, as classes dirigentes, ou seja, os grupos de homens e mulheres ou as associações, que dão, como se costuma dizer, o tom na aldeia e na cidade, na região e no país inteiro.”

Lembrando que socialismo e capitalismo não são formas de governo, mas sistemas econômicos. O socialismo é totalmente condenado pela Igreja. O capitalismo é tolerado pela Igreja porque ainda nele se permitem dois valores:

1. O direito de propriedade particular;
2. A livre iniciativa.

Mas a Igreja condena no liberalismo econômico nos seguintes pontos:

1. A separação entre economia e moral;
2. A livre concorrência absoluta.

Há só três formas de governo, todas as três aceitáveis pela Igreja:

1. A Monarquia;
2. A Aristocracia;
3. A Democracia.

Mas, como dizia um velho professor de história:
“Nenhuma dessas três formas de governo, de per si, solucionaria os problemas do mundo atual, porque essas formas de governo seriam remédios políticos, enquanto a crise atual é religiosa e moral. Só um remédio religioso e moral pode resolver a atual crise do mundo. Só a Igreja Católica pode salvar o mundo, hoje. Só um Papa santo pode curar as chagas do mundo contemporâneo.” Portanto, rezemos pelo Papa, rezemos pela Igreja!

Terço na Praça

Este é um ponto que não precisaria comentar, mas é oportuno apresentar um esclarecimento.
 
O terço é uma oração católica. Se estamos vivos e a religião católica ainda existe, foi à custa do sangue de muitos mártires que perderam a vida pelo simples fato de anunciar Nosso Senhor Jesus Cristo, professar a fé católica e rezar. 

Religioso Arrogante

Há um santo livrinho que se chama Imitação de Cristo. É uma obra da literatura devocional, de Tomás de Kempis, publicada no século XV. Seu texto é um auxiliar à oração e às práticas devocionais pessoais. Alguns o consideram um dos maiores tratados de moral cristã. A “Imitação de Cristo” é talvez a obra devocional cristã mais amplamente lida depois da Bíblia. 

Muitos santos se beneficiaram com a leitura desse piedoso livrinho, como por exemplo o próprio Santo Inácio de Loyola no tempo em que esteve em uma gruta em Manresa, que o ajudou a conceber os Exercícios Espirituais Inacianos.

Eu vou deixar uma reflexão extraída desse livrinho para você meditar, mas antes quero lhe dizer que essa situação de desagrado com o religioso, também se encaixa no início do meu texto, sobre a caridade e a maledicência. Então, em primeiro lugar é importante sempre buscar resolver essas dificuldades com caridade. Se uma conversa com o religioso não resolver, então procure tratar com o superior dele. Se não resolver, então reze por ele e não perturbe a tua paz de espírito com isso. Somos homens e somos imperfeitos, por isso o que importa é buscarmos as graças necessárias, pela misericórdia de Deus, para sermos melhores a cada dia. O religioso em questão eu não sei quem é, pois não frequento a capela. Eu sou um simples leigo, nem teria condições para contribuir na solução de qualquer problema nessa área. Mas saiba que ele é um ser humano como eu e você e têm falhas, assim como nós temos. Por isso ao invés de trazer isso a público, procure resolver pessoalmente com ele, de modo cristão e caridoso, e se não resolver, como eu disse, procure evitar estar perto dele. Afinal de contas, por mais que nós devemos amar o nosso próximo, essa lei divina não nos obriga a conviver com o próximo 24 horas por dia, não é mesmo? A não ser que esse próximo seja alguém que more conosco, aí é uma outra situação.

Do suportar os defeitos dos outros

“Aquilo que o homem não pode corrigir em si mesmo ou nos outros, deve suportá-lo com paciência, até que Deus ordene de outro modo. 
Considera que talvez seja melhor assim, para provar a tua paciência, sem a qual os teus méritos têm pouco valor.
Portanto, deves pedir a Deus que te ajude a vencer esses obstáculos, ou a suportá-los com resignação.
Se alguém, depois de uma ou duas advertências, não se emendar, não contendas com ele; antes encomenda o caso a Deus, que sabe tirar o bem do mal, a fim que seja feita a sua vontade, e que Ele seja glorificado em todos os seus servidores.
Aplica-te a suportar com paciência os defeitos e as imperfeições dos outros, quaisquer que sejam, porque também tens muitas que os outros têm de suportar.
Se tu não consegues ser como querias, como pretendes que os outros sejam como tu desejas?
Nós gostamos que os outros sejam sem defeitos, mas nós não corrigimos os nosso.
Nós queremos que os outros sejam corrigidos com rigor, mas nós não queremos ser repreendidos.
Nós ficamos chocados se dão aos outros demasiada liberdade, mas nós não queremos que nos recusem nada.
Nós queremos que os outros estejam sujeitos à disciplina, mas nós não suportamos que nos limitem em coisa nenhuma.
Donde se vê claramente como é raro nós usarmos a mesma medida para nós e para os outros.
Se todos fôssemos perfeitos, que teríamos então que sofrer dos outros, por amor de Deus?
Ora, Deus ordenou que fosse assim para que nós aprendamos a «carregar o fardo uns dos outros» (Gl 6, 2), porque cada um tem o seu fardo; ninguém é sem defeitos, ninguém se basta a si próprio; ninguém é suficiente sábio para se conduzir sozinho; mas temos que nos suportar, nos consolar, nos ajudar, nos instruir, nos admoestarmos mutuamente.
É na adversidade que se vê melhor a virtude de cada um.
Porque as ocasiões não tornam o ser humano fraco, mas mostram o que é que ele realmente é.”
(Imitação de Cristo - Tomás de Kempis)

Tradicional x Rabugento

O último ponto que desejo tratar é o seguinte: Além dos costumes tradicionais que talvez você possa estranhar na conduta de algumas pessoas, é possível que tenha presenciado algum comportamento de pessoas rabugentas, ranzinzas. Imagine só, um jovem que vive de cara amarrada, que não fala outra coisa a não ser sobre leis, regras, protocolos, e não sabe nem dar um sorriso ou ser gentil com quem não têm o mesmo costume que ele. Veja meu caro, em todos os lugares nós encontramos pessoas com esse tipo de comportamento. E isso independe de religião, cor, partido, etnia, etc. Isso é próprio da fraqueza humana. 

Não podemos condenar todo um grupo de pessoas só porque ali têm um ou outro que não possui um comportamento exemplar. A Igreja é composta por homens, que são falhos, porém ela é santa por sua origem, constituição e corpo doutrinal. A Igreja nos aponta o caminho até o céu. E olha, ela é exatamente para nós, que somos tão miseráveis e fracos e que tanto ofendemos a Deus com nossos pecados do dia a dia. Então, procure olhar para essas pessoas com outra perspectiva. 

Às vezes nós vemos uma pessoa rabugenta e achamos que é merecedora de todo tipo de injúria e indignação, sendo que na verdade o que pode estar por trás daquele mau humor é um ser humano frágil, com uma história dolorosíssima, que carregou um fardo pesado e o levou sozinho por muito tempo, sem receber o apoio de quem estava ao seu lado, apoio que talvez poderia representar algumas mínimas gotas de alívio à dor que estava enfrentando, mas que já seria algo grandioso para quem estava quase desistindo da própria vida.

Então, meu caro, o que é tradicional ou conservador não significa ser arcaico, bruto, com cheiro de mofo ou coberto de poeira, tampouco que aquilo represente autoritarismo no pior sentido da palavra, falta de respeito, desumanidade ou loucura. 

Monte Saint-Michel

Um conhecido escreveu um belo texto que eu gostaria de adaptar para que você possa compreender melhor sobre o significado de Tradição.

"Tradição vem de tradére, que é transmitir. A tradição é a transmissão do que vem do passado. Mas a tradição não é para nós o que é, por exemplo, para o índio. O hábito do índio em usar o cocar, para ele é tradição. Para nós tradição não é isso só. Pela tradição, nós recebemos no fundo da alma um lampejo da Igreja, um luzimento da Luz de Cristo, ou Lumen Christi.

A Igreja é para nós uma espécie de Céu na Terra. Olhando-a e contemplando-a, a gente se sente convidado para entrar numa espécie de Céu da alma nesta Terra.

Peguemos como exemplo a sociedade medieval que, mesmo nos seus aspectos temporais mais ínfimos, tocando até no prosaico, tinha algo do Céu na Terra. Por isso uma ogiva, um vitral, uma torre de castelo, uma batalha, a armadura de um cavaleiro, etc., etc., parecem ter algo de celeste.

A Idade Média expirante deixou, entretanto, veios disso. Estes veios a Revolução igualitária e sensual foi extenuando e empobrecendo, empobrecendo, empobrecendo, até nossos dias. Porém, essa cintilação do Céu brilhando na Cristandade é a única influência que pode criar o ambiente plenamente adequado e próprio ao homem, onde ele se sente aconchegado e elevado. Esse brilho não é o único alimento para a vida espiritual: há em primeiro lugar os sacramentos. Mas, para viver a vida terrena com espírito de Fé precisamos do alimento desse Lumen Christi que recebemos por obra da graça através da ordem cristã, a Cristandade. Ele é tão necessário para a alma, que se o homem se desinteressa desse Lumen Christi na ordem temporal, para se ocupar só de sua vida espiritual individual, ele se auto-liquida." 
(Luis Dufaur)


Origem da discussão e conclusão


Por fim, o assunto que trouxe toda essa discussão, foi a publicação tendenciosa e maldosa por parte de “aRede” que, na foto de capa, colocou uma fotografia na qual um grupo de fiéis apareciam ajoelhados em frente à Igreja como se estivessem protestando, sendo que essas pessoas só tinham se ajoelhado ali porque receberam a Sagrada Eucaristia. Tudo isso trouxe inúmeros ataques, partindo não somente de alguns católicos, mas de inimigos da Igreja e da cristandade. Tudo o que não precisamos neste momento é de desunião. Vivemos tempos sombrios e não sabemos o que nos aguarda pela frente. E isso não tem a ver somente com a pandemia do momento, mas também com a grave ameaça às liberdades individuais. Cenários perigosos estão se desenhando e o desfecho poderá atingir gravemente a todos nós. Então, precisamos de união e sobretudo, de nos voltarmos mais a Deus.


Encerro com alguns extratos retirados da Carta Encíclica "Meminisse Iuvat" do Sumo Pontífice o Papa Pio XII, publicada em 14 de julho de 1958:
“No momento presente, se finalmente se acalmou o embate bélico dos povos, todavia ainda não reina a justa paz, nem a veem os homens consolidar-se num entendimento fraterno; circulam, com efeito, germes latentes de discórdia, que de vez em quando irrompem ameaçadoramente, e mantêm os ânimos em ansiosa trepidação, tanto mais quanto as espantosas armas, ora descobertas pelo engenho humano, são de tamanha expressão, que podem arrasar e submergir no extermínio universal não só os vencidos, mas também os vencedores e a humanidade inteira.

Mas, se com ânimo pensativo examinamos as causas de tantos perigos, presentes e futuros, facilmente vemos que as decisões, as forças e as instituições dos homens são inevitavelmente destinadas a falhar sempre que ou é descurada, ou não é colocada no seu justo lugar, ou é positivamente suprimida a autoridade de Deus – que ilumina as mentes com os seus mandamentos e as suas proibições, e que é princípio e garantia da justiça, fonte da verdade e fundamento das leis. Toda casa que não se apóia numa base sólida e segura rui; toda inteligência que não é iluminada pela luz de Deus afasta-se mais ou menos da plenitude da verdade; surgem as discórdias, aumentam, avolumam-se, se a caridade fraterna não afervora os cidadãos, os povos e as nações.

Ora, só a religião cristã ensina essa verdade plena, essa justiça perfeita e essa caridade divina que elimina ódios, animosidades e lutas; de fato, só ela as recebeu em custódia, do divino Redentor, caminho, verdade e vida (cf. Jo 14, 6), e com todas as forças deve fazê-las pôr em prática. Não há dúvida, então, de que aqueles que querem deliberadamente ignorar a religião cristã e a Igreja católica, ou que se esforçam por lhes opor obstáculos, por desconhecê-las, por submetê-las, enfraquecem com isso as bases da sociedade, ou as substituem por outras que absolutamente não podem sustentar o edifício da dignidade, liberdade e bem-estar humanos.

Necessário é, portanto, voltar aos preceitos do cristianismo, se se quiser formar uma sociedade sólida, justa e equitativa. É prejudicial, é imprudente entrar em conflito com a religião cristã, cuja duração perene é garantida por Deus e provada pela história. Reflita-se em que um estado, sem a religião, não pode ter nem retidão moral nem ordem. A religião é que faz com que as almas sejam formadas na justiça, na caridade, na obediência às leis justas; ela condena e proscreve o vício; induz os cidadãos à virtude; antes, rege-lhes e regula-lhes a conduta pública e privada; ensina que a melhor distribuição da riqueza não se obtém pela violência e pela revolução, mas mediante normas justas, de modo que o proletário que ainda não tenha os meios de vida necessários e oportunos pode ser elevado a uma condição mais decorosa, com feliz solução para as dissensões sociais; desse modo ela traz um eficaz contributo à boa ordem e à justiça, se bem que não tenha sido instituída unicamente para proporcionar e aumentar as comodidades da vida.

Tornando, pois, a pensar em tais coisas com aquela disposição de ânimo que nos coloca acima das disputas humanas, e que nos faz amar paternalmente os povos de todas as raças, duas coisas se nos antolham e nos proporcionam intensas angústias e preocupações. De fato, de um lado vemos que em não poucos países os preceitos cristãos e a religião católica não são tidos na necessária consideração. Turbas de cidadãos, especialmente do povo menos instruído, com facilidade são atraídas por erros amplamente divulgados e, não raro, revestidos da aparência da verdade; as lisonjas e os incentivos do vício, que com influxos nefastos perturbam os ânimos, por meio de publicações de todo gênero, de espetáculos cinematográficos e de televisão corrompem especialmente a juventude incauta. Muitos escrevem e difundem as suas obras não para servirem à verdade e à virtude, e nem para proporcionarem um justo passatempo aos leitores, mas sim para, com objetivo de lucro, lhes excitarem as turvas paixões; ou para ofender e enlamear com mentiras, calúnias e ofensas tudo aquilo que é sagrado, nobre e belo. Muitas vezes - é doloroso dizê-lo - a verdade é deturpada; e dá-se público relevo a coisas falsas e vergonhosas. Não há, pois, quem não veja quanto mal daí promane para a própria sociedade, e quanto dano para a Igreja.

Por outro lado, com suma dor do nosso coração de Pai vemos que a Igreja católica, de rito quer latino quer oriental, em não poucas nações é oprimida por graves vexames; põem-se os fiéis e os ministros do culto, senão com palavras, certamente com os fatos, em face deste dilema: ou abster-se de professar e difundir publicamente a sua fé, ou sofrer danos, mesmo graves. Muitos bispos já foram expulsos da sua Sé ou impedidos de exercer livremente o ministério, ou aprisionados, ou mandados para o exílio. Numa palavra, tenta-se temerariamente fazer verificar o dito: "Ferirei o pastor e o rebanho será dispersado" (Mt 26, 31; cf. Zc 13, 7).

Além disso, os jornais, as revistas, as publicações católicas são quase totalmente silenciadas, como se a verdade fosse domínio e arbítrio exclusivo de quem manda, e como se as ciências divinas e humanas e as artes liberais não tivessem o direito de ser livres, para poderem florescer em proveito do bem público.

As escolas, outrora abertas pelos católicos, são vedadas e abolidas; no lugar delas foram instituídas outras, que ou absolutamente não ministram as noções de Deus e da religião, ou proclamam e difundem as máximas do ateísmo, coisa que sucede frequentemente.

Os missionários, que, tendo abandonado sua casa e a doce terra natal, haviam suportado graves e numerosos incômodos para propiciarem aos outros a luz e a força do evangelho, têm sido expulsos de muitos lugares, como indivíduos nocivos e perigosos; destarte, o clero que fica, desigual em número em confronto com a extensão territorial, e não raro mal visto e perseguido, não pode prover às exigências dos fiéis.

Com dor vemos que às vezes são espezinhados os direitos da Igreja, só à qual compete, sob o mandato da Santa Sé, escolher e consagrar os Bispos destinados a governarem legitimamente o rebanho cristão; e isso sucede com grande dano para os fiéis, como se a Igreja católica fosse coisa interna de uma só nação, dependente da autoridade civil, e não uma instituição divina, e destinada a acolher todos os povos.

Malgrado essas graves e dolorosas angústias, há todavia alguma coisa que dá grande conforto ao nosso coração de Pai. Sabemos, com efeito, que a maior parte dos fiéis de rito latino e oriental permanecem, com todas as forças, apegados a fé avoenga, conquanto estejam privados daqueles auxílios espirituais que os seus pastores poderiam administrar-lhes se de tal não estivessem impedidos. Continuem eles, pois, com coragem, e tornem a pôr a sua esperança naquele que conhece o pranto e os sofrimentos dos que "sofrem perseguição por amor da justiça" (Mt 5, 10); Ele "não faz tardar demais a sua promessa" (2 Pd 3, 9), mas consolará seus filhos com justo prêmio.”

Que Deus abençoe você, sua família e todos que você ama.