sábado, 25 de agosto de 2018

São Luís IX, Rei, estadista e cruzado




 "Cada época histórica tem um homem que a representa. Luís IX é o homem modelo da Idade Média: é um legislador, um herói e um santo... Marco Aurélio [Imperador romano pagão] mostrou o poder unido à filosofia; Luís IX, o poder unido à santidade. Avantajou-se o cristão" (Chateaubriand, Estudos históricos).

Não surpreende muito que um homem, retirado num claustro e separado das ocasiões de pecado, domine as inclinações desregradas da natureza e progrida na prática das mais belas virtudes do Cristianismo. Mas que um príncipe, ao qual não se tem a liberdade de repreender nem contradizer, e que vivendo em meio às honrarias e às mais perigosas volúpias, domine suas paixões, conservando a inocência e a pureza de coração, é realmente admirável, podendo ser chamado um prodígio na ordem da graça.

Entretanto, aquilo que é impossível para as forças do homem, não o é para Deus. E se a História do Antigo Testamento nos apresenta muitas cabeças coroadas que souberam aliar a santidade com a autoridade soberana, e a qualidade de profeta à de chefe, de juiz e de rei, a História do Novo Testamento nos fornece um número bem maior em quase todos os reinos cristãos.

Nesse mês, dia 25, a Igreja nos propõe um príncipe, que podemos chamar de pérola dos soberanos, glória da coroa da França, modelo de todos os príncipes cristãos; e para dizer tudo em duas palavras, um Monarca verdadeiramente segundo o coração de Deus, da Igreja e do povo.

É o incomparável São Luís, quadragésimo Rei da França desde o início da monarquia, e o nono da terceira raça, da qual Hugo Capeto foi o tronco.

Seu pai foi Luís VIII, filho de Filipe Augusto, e sua mãe a princesa Branca, de quem os historiadores atribuem a glória de haver sido filha, sobrinha, esposa, irmã e tia de reis. Com efeito, seu pai foi Afonso IX, Rei de Castela, que infligiu aos mouros sério revés na batalha de Navas de Tolosa, quando mais de duzentos mil infiéis pereceram no campo de batalha; era sobrinha dos reis Ricardo e João, da Inglaterra; esposa de Luís VIII, Rei da França; irmã de Henrique, Rei de Castela; mãe de São Luís IX e de Carlos, Rei de Nápoles e da Sicília; e tia, através de suas irmãs Urraca e Berengüela, de Sanches, Rei de Portugal, e de São Fernando III, Rei de Leão.

Nasceu São Luís no Castelo de Poissy, a 30 quilômetros de Paris, no dia 25 de abril de 1215, quando em toda a Cristandade procissões solenes comemoravam o dia de São Marcos. Vivia ainda seu avô, Filipe Augusto, o qual acabava de ganhar a célebre batalha de Bouvines, oito anos antes de lhe suceder seu filho, o futuro Luís VIII.

A infância de São Luís foi um espelho de honestidade e sabedoria. Seu pai, que unia virtude e zelo pela religião a uma bravura marcial que lhe valeu o nome de Leão, foi particularmente zeloso na sua educação. Deu-lhe bons preceptores e um sábio governante: Mateus II de Montmorency, primeiro barão cristão; Guilherme des Barres, Conde de Rochefort; e Clemente de Metz, marechal-da-França, que lhe inspiraram os sentimentos que deve ter um rei cristianíssimo e um filho primogênito da Igreja.

Sua mãe, Branca, não poupou esforços para torná-lo um grande rei e um grande Santo, sobretudo após a morte de seu filho primogênito, Filipe. Ela lhe repetia com freqüência estas palavras, dignas de serem imitadas por toda mãe verdadeiramente católica: "Meu filho, eu gostaria muito mais ver-te na sepultura, do que maculado por um só pecado mortal".

Com a morte prematura do Rei aos 40 anos, em 1226, na cidade de Montpellier, quando voltava da guerra contra os hereges albigenses, nosso Santo subiu ao trono, sob a tutela da mãe, tendo sido sagrado na Catedral de Reims em 30 de novembro daquele mesmo ano.

Sua minoridade foi pródiga em guerras intestinas, causadas pela ambição e orgulho de senhores feudais do reino, que desejavam valer-se da pouca idade do soberano para impor as suas pretensões. Mas Deus dissipou todas as facções por uma proteção visível sobre a pessoa sagrada desse jovem Monarca.

Uma minoridade tão conturbada serviu de ocasião para fazer reluzir a prudência, o valor e a bondade daquele que se tornaria um protótipo do Rei Católico.