segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Exerça a vigilância sobre as suas ações, a fim de que não labute em vão



O Abade Daniel referiu ter o Abade Arsênio contado o seguinte, como que falando de ou trem; talvez, porém, se tratasse dele mesmo: «Estando certo ancião na cela, desceu a ele uma voz que dizia: ‘Vem, mostrar-te-ei as obras dos homens’». Tendo-se, pois, levantado, saiu, e quem falara, levou-o para certo lugar, onde lhe mostrou um etíope que cortava lenha, e fizera um grande fardo; tentava carregar a este, mas não o podia; ora, em vez de tirar algo do fardo, de novo se punha a cortar» lenha, e acrescentava-a à carga. Isto, ele o ia fazendo por muito tempo.

Tendo caminhado mais um pouco, aquele que falava, de novo mostrou-lhe um homem colocado ã margem de um lago; hauria água, e derramava-a numa vasilha furada, a qual deixava a água recair no lago.

Disse-lhe de novo: «Vem, mostrar-te-ei ainda outra coisa». Viu então um templo e dois homens montados em cavalos; postos um em face do outro, carregavam um lenho atravessado entre ambos; queriam entrar pela porta, mas não o conseguiam, por estar o lenho atravessado; um desses homensnão se abaixou diante do outro a fim de colocar o lenho em linha reta; por isto permaneceram do lado de fora da porta. 

«Estes são», disse, «os que carregam com soberba uma espécie de jugo de justiça, e não se abaixam a fim de se tornarem retos e caminhar a via humilde de Cristo; por isto permanecem fora do reino de Deus. 

Aquele que cortava lenha, é o homem réu de muitos pecados, que, em vez de fazer penitência, acrescenta novas iniquidades aos seus pecados. 

E aquele que hauria água, é o homem que pratica boas obras, mas, por lhes ter misturado algo de mau, perdeu também as boas obras. 

É preciso, pois, que todo homem exerça a vigilância sobre as suas ações, a fim de que não labute em vão».

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Apoftegmas – A Sabedoria dos Padres do Deserto


domingo, 1 de outubro de 2023

O lenho seco

 


Do Abade João Curto contaram que se retirou para junto de um ancião Tebano na Cétia, ficando a residir no deserto. Ora o seu Abade, tomando um lenho seco, plantou-o e disse-lhe:

“Rega-o diariamente com um cântaro d’água, até que dê fruto”.

A água, porém, ficava distante deles, de movo que, para hauri-la, devia sair à tarde e voltar de manhã.

Passados três anos, o lenho viveu e deu fruto; o ancião então colheu-o e levou-o para a igreja, dizendo:

“Tomai, comei o fruto da obediência”.


(BETTENCOURT, Estêvão. Apoftegmas – A Sabedoria dos Padres do Deserto. Lumen Christi, Rio de Janeiro, 1979)