sábado, 2 de maio de 2020

Como o católico deve se comportar diante do atual cenário político?

Muitos se perguntam como o católico deve se comportar diante do atual cenário político dessacralizado onde comunistas, liberais e pessoas com todos os tipos de posições e pensamentos assumiram, no Brasil e em vários outros países do mundo, os principais cargos políticos existentes. 

Mais recentemente, após a eleição de Jair Bolsonaro, surgiram aqueles católicos extremamente críticos não só ao Presidente mas também aos judeus como um todo, chegando a ponto de realizarem críticas ásperas e pesadas contra eles. Tais católicos inclusive tomam posição contra os judeus no embate que envolve a Terra Santa (Israel foi criado em 1948 e muitos dos islâmicos nunca aceitaram e nem reconheceram esta situação). 

Pois bem, vamos tratar, neste artigo, sobre como se comportar diante destas questões de acordo com as orientações dadas pelas legítimas autoridades católicas e pelos moralistas aprovados por elas. 

Comecemos pela questão relacionada ao apoio por parte dos fieis a candidatos menos indignos, diante de outros mais indignos e perseguidores da religião. Sobre isso, vejamos o que ensinou São Pio X nas instruções dadas em 1909 aos diretores do Partido Integralista Espanhol, quando os filhos da Maçonaria batiam pesado na Igreja Católica, bem como os comunistas. Vamos ver se São Pio X mandou atacar violentamente aqueles que se deixavam influenciar pelas doutrinas inovadoras ou, contrariamente, orientou os bons católicos até mesmo a os apoiarem (desde que na falta de candidatos realmente católicos e seguindo algumas precauções):

“(...) Não acusar a ninguém como não católico ou menos católico apenas por militar em partidos políticos chamados ou não chamados liberais, se bem que este nome repugna justamente a muitos, e o melhor seria não usa-lo. Combater sistematicamente os homens e aos partidos apenas por chamarem-se liberais não seria justo e nem oportuno; combatem-se os atos e as doutrinas reprováveis, quando se produzem, seja qual for o partido ao quais estes afiliados propõem tais atos ou sustentam tais doutrinas. O bom e o honesto que façam, digam e sustentem os afiliados de qualquer partido e as pessoas que exercem autoridade pode e deve ser aprovado e apoiado por todos os que se gabam de serem bons católicos e bons cidadãos, não somente em privado mas também nas cortes, nas disputas, nos municípios e em toda a ordem social. Abstenção e oposição ‘a priori’ estão em desacordo com o amor que devemos à religião e à pátria. Não seria justo ser tão inexorável por causa dos pequenos deslizes políticos dos homens afiliados aos chamados partidos liberais que, por tendência e atitude política, são normalmente mais respeitadores da igreja do que a generalidade dos homens políticos de outros partidos. Estar sempre pronto para unir-se com todos os bons, seja qual for sua filiação política, em todos os casos práticos que os interesses da religião e da pátria exijam uma ação comum. Esta união não é união de fé e nem de doutrina, pois em tais coisas todos os católicos devem estar unidos com os demais católicos, e todos eles sujeitos e obedientes a Igreja e aos seus ensinamentos; esta união, por sua natureza, não é uma associação católica, nem uma confraria, nem uma academia, é uma ‘ação pratica’ não constante e permanente ou ‘per modum habitus’, senão de circunstancias e necessidades ‘per modum actus’” – Instrução dada pelo Papa São Pio X aos espanhóis -  Do Boletim Oficial do Bispado de Santander – 30 de janeiro de 1909.

Além disso, o mesmo Papa São Pio X ensinou, em carta ao Bispo de Madrid Victoriano (01) ser necessário que os católicos busquem eleger aqueles que pelo menos pareçam que irão cuidar melhor dos “interesses da religião e da pátria, no exercício de seu cargo público”, e que isso deve se observar considerando “as condições de cada eleição e as circunstâncias dos tempos e dos lugares”.

Após estes ensinamentos de São Pio X o Reverendíssimo Padre Villada escreveu um documento (De elecciones) para tratar da forma como os católicos deveriam agir diante dos péssimos candidatos existentes naqueles tempos, tanto na Espanha como na Itália. Vejamos o que o bom padre ensinou, invocando os conselhos dados por São Pio X no que se refere as eleições nos tempos modernos:

"Os indivíduos particulares dos partidos políticos poderão ser uns piores que os outros, e às vezes talvez alguém pertencente a um partido mais avançado poderá ser menos mal que outro pertencente a um partido mais conservador; mas sempre será por si mesmo menos mal ou mais tolerável aquele que em seu programa de governo se mostre menos perseguidor da Igreja. Esta mesma doutrina foi recentemente aprovada por Pio X nas eleições italianas, permitindo que muitos católicos votassem em deputados mais ou menos liberais e, por conseguinte, mais ou menos inimigos da igreja e dos direitos do Papa, a fim de IMPEDIR O TRIUNFO DOS SOCIALISTAS e anarquistas que em tais distritos apresentavam-se. Com razão, por conseguinte, muitos bispos espanhóis incentivaram os católicos de suas dioceses, segundo indicamos antes, para que amoldassem sua conduta nas últimas eleições administrativas a essa doutrina” - Reverendíssimo Padre Villada - De elecciones

Portanto, contra os socialistas devemos apoiar até mesmo os liberais não pertinazes porque estes se mostram mais respeitosos para com o cristianismo e o catolicismo. Realce-se que tal apoio é circunstancial, momentâneo e que não significa, de maneira nenhuma, união de fé e doutrinária. Pois bem, outros moralistas aprovados pela Igreja ensinaram o mesmo, como Lehmkühl:

“Dar o sufrágio a um candidato mau com a intenção de que saia vencedor, sempre é um pecado grave; porque isto é dar formalmente o sufrágio a um candidato mau. Mas dar o sufrágio para que seja excluído outro candidato pior, não é pecado, senão que pode ser um bem, contanto que não se aprove nada de mal no candidato indigno, porque isto não é outra coisa que dar materialmente o sufrágio ao candidato mau” (Casus Conscientiae, cas. 139).

O mesmo ensinamento é ministrado por Gury-Ferreres que, falando das eleições populares, afirmou ser licito “dar alguma vez o voto a um candidato menos indigno ou também indigno (...) se não há esperança da eleição de um candidato digno, e o indigno concorre unicamente com outro mais indigno, porque então a eleição de um candidato menos mal tem razão de bem” - Casus Conscientiae, de 4º praec. decal., cas. 9º

Continuando, o Cardeal De Lugo explica, nos termos seguintes, se é lícito alguma vez eleger uma pessoa não digna:

“Nunca é lícito senão quando não se encontra uma pessoa digna; porque então, para evitar um mal maior, se pode dar o benefício ao indigno, segundo o ensinam, com outros, Lesio e Filiucio. E é o que se faz nas regiões setentrionais infestadas de heresia, onde, para evitar um mal maior, e para que os benefícios não caiam nas mãos de hereges, elegem-se algumas vezes católicos pouco dignos ou indignos” - De. Iust., disp. 35, sect. 1, nº 5

Ah, em tempo: o Cardeal De Lugo é considerado por Santo Afonso como o maior teólogo desde São Tomás de Aquino. Então, não importa se consideramos Bolsonaro como um católico pouco digno, ou indigno, ou liberal, ou judaizante, ou americanista, etc, ele cai exatamente na definição de um candidato que se deve apoiar em oposição aos comunistas, de acordo com as circunstâncias, por mostrar reverência pela Igreja e por promover, ainda que enviesadamente, muitos de seus valores. 

E que de fato Bolsonaro é um mal menor que Lula, Dilma, Marina, Aécio, Boulos, Ciro e companhia limitada basta ser pai de família para constatá-lo: com ele, esperamos, ao menos nossas esposas e filhas não entrarão em banheiros públicos com homens que se dizem mulheres e nem nossos filhos serão doutrinados com a nefasta ideologia de gênero. E nem o dinheiro público será usado para financiar ditaduras comunistas ou a legalização do aborto, e nem coletivos feministas ou culturais esquerdopatas, entre outras aberrações luciferinas.   

Se alguém não reconhece isto como um bem enorme para os católicos nos tempos atuais, então tal pessoa é um cego ao meio dia. Aliás, e indo ainda mais além, em alguns casos pode-se até mesmo se unir a socialistas para lutar por direitos trabalhistas e outros relacionados a classe operária.

Na Enciclica "Singulari Quadam", publicada no dia 24 de setembro de 1912, o Papa São Pio X permitiu que os católicos se inscrevessem em sindicatos de orientação católica e também em sindicatos neutros e não confessionais (portanto, formado por ateus, maçons, protestantes, agnósticos e pessoas com todos os tipos de pensamentos). Porém, ao conceder esta permissão ele pediu aos católicos que tomassem determinadas precauções. 

Posteriormente, em 1929, uma Congregação instituída pelo Papa Pio XI dirigiu uma carta a Monsenhor Liénart, Bispo de Lille, França, onde tratava de questões ligadas aos sindicatos católicos. Neste documento a Igreja permitia, oficialmente, que sindicatos católicos fizessem acordos pontuais e trabalhassem juntos com sindicatos neutros ou até mesmo socialistas (não, porém, comunistas), e desde que fossem tomadas precauções para evitar os perigos decorrentes de tais acordos.

Logo, está explicada a forma católica, racional e legítima de agirmos diante da situação política atual, onde os candidatos são apóstatas em maior ou em menor grau e onde muitos dos que lutam pelos direitos trabalhistas não professam o catolicismo.

Vejamos, agora, a questão relacionada aos judeus. Como dito antes, alguns os atacam de maneira tão violenta que custa a crer que tal postura seja realmente aprovada pelas autoridades eclesiásticas, pois a Igreja inúmeras vezes os protegeu determinando que os católicos cessassem de ataca-los. Vejamos o que pode ser recordado neste sentido. 

No ano 602 o Papa Gregório I se manifestou nos seguintes termos contra aqueles que se empenhavam, irracionalmente, para impedir-lhes a celebração de suas festas:

"Aqueles que com intenção sincera desejam levar à reta fé os que estão longe da religião cristã devem se esforçar, com palavras atraentes, não ásperas, para que um sentimento hostil não afaste aqueles cuja mente poderia ser estimulada pela apresentação de um raciocínio claro" - Papa Gregório I - Carta “Quia sincera” ao bispo Pascásio de Nápoles, nov. 602 - Denzinger 480

Na Constituição Licet perfidia Iudaeorum, de 15 de setembro de 1199, o Papa Inocêncio III, este realmente um dos maiores papas da nossa história, assim se exprimiu ao falar dos católicos que atacavam os judeus:

“Mesmo se a fé errônea dos judeus deva ser desaprovada de muitos modos, todavia, já que por meio deles a nossa fé é verazmente confirmada, não devem ser duramente oprimidos pelos crentes (...) Nós, portanto, ainda que eles prefiram permanecer na sua dureza a reconhecer os oráculos dos profetas e os arcanos <mistérios> da Lei e assim chegar ao conhecimento da fé cristã, mas entretanto pedem o auxílio da nossa defesa de acordo com a mansidão da piedade cristã, seguindo as pegadas dos Romanos Pontífices nossos predecessores de feliz memória, Calisto [II], Eugênio [III], Alexandre [III], Clemente [III] e Celestino [III], acolhemos o seu pedido e concedemos a eles o escudo da nossa proteção. (...) nenhum cristão, sem sentença da autoridade territorial, ouse de modo indigno ofender as suas pessoas, ou subtrair com violência os seus bens, ou modificar os bons costumes que até agora têm observado na região em que habitam. Ademais, ninguém os perturbe de modo algum com pancadas ou com pedras na celebração de suas festas, nem alguém pretenda exigir ou extorquir deles serviços não devidos, senão aqueles que eles mesmos estavam acostumados a fazer nos tempos passados”.

E mais abaixo:

“Ficam excomungados os que violam este decreto” - Constituição Licet perfidia Iudaeorum, de 15 de setembro de 1199 - Papa Inocêncio III (Denzinger 772)

No Canon 26 do III Concílio de Latrão (1179), é ensinado que os judeus devem ser suportados pelos cristãos “pela mera razão da humanidade”. Esta constituição foi repetida e confirmada pelos papas Honório III (7 nov. 1217; PoR 5616), Gregório IX (3 mai 1235; PoR 9893), Inocêncio IV (22 out. 1246 e 5 jul. 1247: PoR 12315 12596) e ainda outros – Denzinger 772

No encontro entre o Comendador Theodor Herzl e o Papa São Pio X em 1904, quando a Igreja deixa claro que não apoiaria os judeus na causa relacionada a retomada da Palestina, o Papa diz o seguinte ao judeu que estava em sua frente:

“(...) eu sempre tive boas relações com judeus. Há apenas algumas noites dois judeus estavam aqui para me visitar. No fim das contas, há outros vínculos além dos da religião: cortesia e filantropia. Isso nós não negamos aos judeus”.

Realce-se que as palavras acima são colocadas de acordo com o testemunho do Comendador, que nos parece totalmente verossímil. Assim, o católico atento a estes ensinamentos sempre escolherá bem as palavras que irá usar não apenas ao se dirigir aos judeus, mas também a todos aqueles que renegam a verdadeira religião. Dizer a verdade não significa agir como uma espécie de psicopata virtual, abusando da verborragia; contrariamente, deve-se manter postura adequada a cada situação, de acordo com o caso concreto. 

Agora, sobre o apoio que alguns católicos dão aos muçulmanos contra os judeus na questão da Palestina: neste mesmo encontro que São Pio X teve com o Comendador israelense o Papa realçou que apesar de não poder apoiar Israel ainda assim lamentava que os turcos estivessem de posse dos lugares santos. Vejamos:

“(...) não agrada ver os turcos na posse dos Lugares Santos. Nós simplesmente temos que nos conformar com isso. Mas apoiar os judeus na conquista dos Lugares Santos, isso não podemos”.

Ou seja, apesar de o fato de muçulmanos estarem de posse dos lugares santos, isso não significa que a Igreja apoia algum dos lados nesta questão. Ainda neste sentido julgo oportuno citar o Discurso proferido pelo Santo Papa Pio XII aos Delegados da Suprema Comissão Árabe para a Palestina em visita ao Vaticano no dia 3 de Agosto de 1946 (portanto, cerca de dois anos antes da criação de Israel):

"(...) depois de ter recebido nestes últimos dias numerosos apelos e reclamações das diversas partes do mundo e por diferentes motivos, pensamos que seja supérfluo dizer-vos que reprovamos qualquer recurso à força e à violência, de onde quer que provenha, como também condenamos várias vezes no passado as perseguições de um antissemitismo fanático, desencadeado contra o povo judeu. Mantivemos sempre esta atitude de absoluta imparcialidade nas circunstâncias mais diversas, e com ela pretendemos conformar-nos no futuro. Mas é evidente que esta imparcialidade que nos é imposta pelo nosso Ministério Apostólico e nos coloca acima dos conflitos que agitam a sociedade humana não pode significar indiferença, sobretudo neste momento tão difícil" - Discurso de Pio XII aos Delegados da Suprema Comissão Árabe para a Palestina em visita ao Vaticano no dia 3 de Agosto de 1946 (conferir também aqui)

Claríssimo, não? Apenas uma observação: neutralidade não significa indiferença ou fechar aos olhos para algumas injustiças que se pratica na Terra Santa, independente de quem as pratica. Denuncia-se a injustiça mantendo-se a neutralidade.  

Continuando, quando a guerra árabe-israelense de 1948 estourou, a Igreja também adotou a posição oficial de imparcialidade diante do novo conflito. Em outubro de 1948, quando a guerra ainda estava em andamento, Pio XII promulgou a Encíclica “In Multiplicibus Curis” pedindo a paz e a proteção dos lugares santos. Vejam como ele se manifestou:

“(...) sem nos afastar da atitude de imparcialidade a que somos obrigados pelo nosso Ministério Apostólico que nos põe acima dos conflitos que agitam a sociedade humana, não deixamos de agir, no que nos era possível, para o triunfo da justiça e da paz na Palestina e o respeito e a proteção dos lugares sagrados” – Papa Pio XII – Encíclica “In Multiplicibus Curis” 

Seguramente, antes e depois da criação de Israel a Igreja se manteve neutra na disputa entre muçulmanos e judeus pela Terra Santa. Nenhum documento de apoio aos palestinos, ou de apoio aos judeus, foi promulgado! Nenhuma palavra foi dita neste sentido pelos papas, nem em beneficio de um lado, e nem de outro. E se a Igreja se manteve neutra por que raios alguns católicos tomam partido contra os judeus? Tanto São Pio X como Pio XII tiveram exatamente a mesma postura, ambos pensavam exatamente igual nesta questão e agiram da mesma forma. Imitemo-los.

Finalizando, colocamos agora o que ensinou Pio IX ao se referir ao cenário político italiano, na segunda metade do século XIX, tomado pelos liberais filhos da Revolução Francesa que conviviam com a sombra do comunismo que começava a crescer. Desta maneira, com estes dois dragões em seu seio, a Itália começava a ver seus filhos abandonarem a Igreja.

Vendo o início da debandada, vendo tanta gente boa adotando os princípios iluministas e comunistas, vendo o Estado deixar de ser católico, o que determina a Igreja? Como os católicos devem agir? Vamos ver? Aí estão as palavras do glorioso Pio IX na Encíclica "Quanto Conficiamur Moerore":

"Não aconteça, porém, que os filhos da igreja católica sejam, de algum modo, inimigos dos que não são unidos a nós pelos mesmos vínculos de fé e caridade; ao contrário, procurem sempre socorrê-los e ajudá-los com todos os serviços da caridade cristã, na pobreza, na doença e em todas as outras desgraças com as quais são afligidos; ocupem-se sobretudo em tirá-los das trevas dos erros nas quais miseravelmente jazem, reconduzindo-os à verdade católica e à amantíssima mãe Igreja, que não cessa nunca de estender-lhes afetuosamente suas mãos e de reconvocá-los ao próprio seio, para que, reforçados e firmes na fé, esperança e caridade, e frutificando em toda boa obra, obtenham a salvação eterna" – Encíclica Quanto Conficiamur Moerore, 5

Eu procuro fazer destas palavras a minha norma de vida diante da grande apostasia. Claro que tal ensinamento deve ser compreendido no sentido em que a Igreja o compreende e se lermos alguns manuais de Teologia Moral veremos os autores ensinando que, quanto maior a apostasia no Estado católico, menos culpa tem os indivíduos de apostatarem.


Sandro Pelegrineti de Pontes

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01) Segue a carta completa escrita por São Pio X ao Arcebispo de Valencia Victoriano:

"Ao venerável irmão Victoriano, Bispo de Madri, Arcebispo de Valencia.

Pio Pp. X.

Venerável Irmão, saúde e bênção Apostólica: Chegou ao nosso conhecimento que entre os católicos da Espanha originaram-se certas disputas, que exacerbaram um pouco nestes últimos meses as antigas discórdias de partido. Foi-se tomado a propósito de tais disputas de dois artigos publicados na revista ‘Razón y Fé’, sobre o dever dos católicos de concorrer às eleições para eleger aos que hão de administrar o interesse público, e sobre a norma que ha de seguir-se para escolher entre os candidatos quando há competência.

Por nossa parte, quisemos que fossem examinados os dois referidos artigos, e nada há neles que não seja ensinado atualmente pela maior parte dos Doutores de Moral, sem que a Igreja o reprove nem o contradiga. Não existe, pois, razão para que os ânimos de tal forma se inflamem: assim, desejamos e queremos que cessem por completo as dissensões surgidas e demasiado fomentadas por um longo tempo. Isto certamente tanto mais o desejamos, quanto que, se alguma vez, agora mais do que nunca é necessária a maior concórdia dos católicos.

Tenham todos presentes que, diante do perigo da religião ou do bem público, a ninguém é lícito permanecer ocioso. Agora bem, os que se esforçam por destruir a religião ou a sociedade, põe a mira principalmente em apoderar-se, se lhes fosse dado, da administração pública e em ser nomeados para os cargos legislativos. Portanto, é necessário que os católicos evitem com todo o cuidado tal perigo, e assim, deixados de lado os interesses de partido, trabalhem duramente pela incolumidade da religião e da pátria, procurando com empenho sobretudo, isto; a saber: que tanto às assembleias administrativas como às políticas ou do reino vaiam aqueles que, consideradas as condições de cada eleição e as circunstâncias dos tempos e dos lugares, segundo retamente se resolve nos artigos da citada revista, pareça que hão de olhar melhor pelos interesses da religião e da pátria no exercício de seu cargo público.

Estas coisas, Venerável Irmão, desejamos que vós e os demais Bispos da Espanha aviseis e persuadais o povo, e que reprimais em diante com prudência tais disputas entre os católicos.

Como um penhor de dons divinos e em testemunho de nossa benevolência damos a todos com sumo afeto a bênção Apostólica.

Dado em Roma, em São Pedro, no dia 20 de fevereiro, ano 1906, terceiro de nosso Pontificado.

Pio Papa X"

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