quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Boas disposições de uma alma católica


Preparações Divinas



Por Dom Columba Marmion, O.S.B.


É verdade que Jesus Cristo já vive em nós pela graça santificante que nos faz nascer filhos de Deus; mas a Igreja quer que esta graça se renove e que vivamos uma vida nova, mais livre do pecado, que sejamos menos imperfeitos, mais desprendidos de nós mesmos e das criaturas: (…) [pois,] se é verdade que Ele nasceu, viveu e morreu por nós (…) também é verdade que a aplicação dos Seus merecimentos e a dispensação das Suas graças se realiza na alma na medida dessas disposições.

Quais são essas disposições? Podem resumir-se em quatro.

1. PUREZA de coração. Vejamos: quem estava mais bem preparado para a vinda do Verbo Incarnado à terra? Era, sem dúvida, a Virgem Maria. No momento em que o Verbo veio ao mundo, achou o coração desta Virgem perfeitamente preparado e capaz de receber as liberalidades divinas de que a queria cumular.

O seio de Deus, de brilho imaculado, é a morada natural do Filho único de Deus; o Verbo está sempre in sinu Patris; mas, incarnando, quis também, por inefável condescendência, ser in sinu Virginis Matris; era mister que o tabernáculo que lhe oferecia a Virgem Lhe lembrasse, por sua pureza incomparável, o seio eterno onde, como Deus, vive sempre: Christus sinus erat in Deo Patre divinitas, in Maria Matre virginitas¹.

2. A primeira disposição que atrai Jesus Cristo é uma grande pureza. Nós, porém, pecadores que somos, não podemos oferecer ao Verbo, a Jesus, essa pureza imaculada que Ele tanto ama. O que poderá substituí-la em nós? A HUMILDADE.

Se não temos a pureza da Virgem Maria, peçamos ao menos ao menos a humildade da Madalena, o amor da contrição e da penitência.

3. Todavia, a consideração das nossas enfermidades não nos deve desanimar; pelo contrário. Quanto mais sentirmos a nossa fraqueza, tanto mais devemos abrir nossa alma à CONFIANÇA, porque a salvação vem unicamente de Jesus Cristo.

O Verbo desposou a nossa natureza; tomou sobre Si as nossas enfermidades para experimentar o que é o sofrimento; vem a nós para que tomemos parte na Sua vida divina; possui todas as graças que podemos esperar, e possui-as em plenitude para no-las conceder.

4. Esta confiança manifestar-se-á sobretudo em DESEJOS ARDENTES de ver Jesus Cristo em nós para reinar mais ainda: Adveniat regnum tuum! A Liturgia desenvolve em nós estes desejos. Ao mesmo tempo que põe diante de nós e nos faz reler as profecias, sobretudo as de Isaías, a Igreja leva aos nossos lábios as aspirações e anelos dos antigos justos.

Sabeis muito bem que Deus é senhor dos Seus dons; Ele é soberanamente livre e ninguém pode pedir-Lhe contas das Suas preferências; mas na aplicação ordinária de Sua Providência «Ele guia-se pelas súplicas dos humildes que Lhe expõem as suas necessidades»: Desiderium pauperum exaudivit Dominus².

Portanto, se queremos que (…) uma fonte de abundantes graças para a Igreja e para nós, procuremos purificar os nossos corações, tenhamos uma humildade cheia de confiança, e sobretudo dilatemos a nossa alma pela grandeza e veemência dos nossos desejos.



Fonte: Dom Columba Marmion, O. S. B. — “Jesus Cristo nos Seus Mistérios”, Mosteiro de Singeverga, Edições “Ora & Labora”, tradução de 1958 do original de 1919, páginas 127 a 133.

Retirado do blog: Nordeste Tridentino
Fotografia: Apenas para ilustração. Desconheço o nome do autor.

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