segunda-feira, 30 de maio de 2022

Falta de Reação: Causa e Triunfo do Mal



Sobre as senhoras que adotam o uso de calças masculinas


Por Dom José Maurício da Rocha, Bispo de Bragança,

Publicado na Revista Catolicismo n° 37, janeiro de 1954

A falta de reação tem sido a causa do trunfo do mal.

SENDO cada vez mais numerosas em muitos lugares do Brasil as senhoras que adotam o uso de calças masculinas, S. Excia. Revma. o Snr. D. José Maurício da Rocha, DD. Bispo de Bragança, publicou recentemente um edital condenando tal hábito. Esse edital teve a maior repercussão no vizinho Estado de São Paulo e constitui um documento de importância essencial na luta da Hierarquia em prol da modéstia cristã.

Publicamo-lo, pois, chamando a atenção de nossos leitores, não só para as suas disposições, como ainda para os considerandos em que o ilustre Prelado mostra a gravidade do pecado de omissão, nesta importante matéria.

Na Diocese de Campos o interesse do documento não é apenas informativo, como ainda preventivo.

Está assim redigido o edital do Exmo. Snr. Bispo do Bragança:

A FALTA DE REAÇÃO: CAUSA DO TRIUNFO DO MAL

"Considerando que a falta de justa e oportuna reação contra o mal tem sido a causa do seu triunfo nos vários setores da vida, sobretudo atualmente; considerando que é dever da autoridade, no âmbito de suas atribuições, procurar impedir o mal; considerando que é mau não só o que o é por natureza, mas o que como tal é tido e proibido pela autoridade competente, mesmo que outros digam o contrário; considerando que Deus não pode errar e que, por conseguinte, o que por Ele é proibido não deve ser praticado, e somente a Ele cabe revogar Sua proibição; considerando que Deus, na Sagrada Escritura, capítulo XXII, v. 5, do Deuteronômio, proíbe formalmente que "as mulheres usem vestes masculinas, porque Deus abomina a quem pratica isso"; considerando que não pode Deus errar, e que a severidade com que veda tal prática, declarando abominável a Seus olhos quem a adotar, torna evidente a gravidade do mal que ela encerra; considerando que os interpretes das palavras do escritor sacro confirmam a abominação pelas consequências, quando dizem que a mulher deixando as vestes próprias, deixa também o pudor — "mulier cum veste etiam pudorem exuit"; considerando que seria muito mais agradável à autoridade poder silenciar no caso, se o bem geral não exigisse o contrário; considerando que o Código Penal Brasileiro proíbe o uso das vestes de um sexo pelas do outro, não sendo portanto proibição meramente eclesiástica:

EXCLUÍDAS DOS SACRAMENTOS

"Havemos por bem, muito a contragosto, mas premido pelas circunstâncias, enfrentar diretamente a situação, que está tomando proporções alarmantes nesta cidade e em outras paróquias da Diocese, com a quebra das nobres e honrosas tradições da família bragantina e paulista. Nós cumprimos o Nosso dever; e quem for católico cumpra o seu, obedecendo a seu Bispo e, sobretudo, a Deus.

"Em virtude das razões expostas, somos forçados, pois, a determinar que sejam excluídas da recepção dos Sacramentos até que se emendem, não podendo também servir de madrinhas de batismo, de crisma e de casamentos, todas as mulheres, de qualquer estado ou condição, que, afrontando a proibição divina e estas Nossas determinações, continuarem a usar calças, a modo de homens, ou vierem a usá-las, pelas ruas, em passeios, etc., excetuadas as montarias em viagens a cavalo, tanto mais porque não há necessidade de tal uso, nada havendo que o justifique senão, a insensatez dos que o inculcam.

"Esta proibição não visa, evidentemente, apenas ao momento da recepção dos Sacramentos, mas às atitudes anteriores, o que quer dizer que, embora se apresentem para os Sacramentos em trajes femininos, se, em outras ocasiões, usarem vestes masculinas, estão incursas na proibição".

TAMBÉM AS MÃES

"Em iguais penas incorrem as mães que permitem a suas filhas, mesmo pequenas, tal uso, pois a isso acostumadas desde crianças, com maioria de razão hão de fazê-lo quando crescidas.

"Estamos certo de que, em face das considerações expostas, as pessoas sensatas e os bons católicos estarão ao lado da Igreja".

Termina S. Excia. Revma. determinando que os Sacerdotes sejam inflexíveis no cumprimento de suas determinações, que deverão ser lidas nas igrejas e capelas por um mês seguido e afixadas nos quadros dos avisos paroquiais.

Fonte: Revista Catolicismo 

Sobre Dom José Maurício da Rocha


Dom José Maurício da Rocha nasceu em Lagoa da Canoa, Estado de Alagoas, em 18 de junho de 1885. Estudou no Seminário de Olinda. Ainda jovem seminarista, ele foi apresentado a São Pio X, que ficou admirado com suas qualidades. Foi ordenado sacerdote por Dom Antonio Manuel de Castilho Brandão, na Catedral de Maceió, em 29 de junho de 1908, com dispensa de idade, pois tinha apenas 23 anos. Logo foi designado Professor no Seminário Menor da Diocese de Maceió e Secretário da Cúria Diocesana.

Em 1911, aos 26 anos, o Arcebispo de Salvador na Bahia o nomeou Cônego Honorário da Sé Primacial.

Em 1913, aos 28 anos, o Papa São Pio X concedeu-lhe a dignidade de Monsenhor Camareiro Secreto de Sua Santidade.

Em 10 de maio de 1919, aos 33 anos, o Papa Bento XV o elegeu Bispo de Corumbá, então Estado de Mato Grosso. A sagração episcopal teve lugar na Catedral de Maceió, em 20 de julho do mesmo ano, pelas mãos de Dom Jerônimo Thomé da Silva, Arcebispo Primaz do Brasil, sendo co-consagrantes Dom Manuel Antonio de Oliveira Lopes, Bispo de Maceió, e Dom Jonas de Araújo Batinga, Bispo de Penedo/AL.

Nos oito anos em que foi bispo de Corumbá empreendeu penosas viagens pelo sertão. A Diocese contava então com reduzidíssimo clero e escassos recursos econômicos.

Em 4 de fevereiro de 1927, o Papa Pio XI o transferiu para a recém-criada Diocese de Bragança (na época, o “Paulista” ainda não havia sido acrescentado ao nome da Cidade Episcopal).

Dom José Maurício foi um dos mais influentes bispos brasileiros até sua morte. Monarquista, ferrenho antimodernista, anticomunista e antiliberal, dotado de inteligência privilegiada, vastíssima cultura e piedade exemplar, escreveu inúmeros artigos e cartas pastorais, nos quais revelava seu amor à Igreja e suas preocupações pela defesa da fé e dos costumes, bem como pelos problemas sociais e políticos.

Foi consagrante do Arcebispo Dom Geraldo de Proença Sigaud e dos Bispos Dom Luís Gonzaga Peluso e Dom Germán Vega Campón. Apoiou abertamente Dom Sigaud quando este, em colaboração com Dom Antonio de Castro Mayer, Plínio Correa de Oliveira e Luiz Mendonça de Freitas, publicou o livro Reforma agrária: questão de consciência.

Convocado para o Concílio Vaticano II, antes de se dirigir a Roma, registrou em uma Carta Pastoral sua esperança de que o comunismo fosse solenemente condenado pela Igreja:

“O Brasil acha-se entre dois fogos. De um lado está a Cruz Redentora… per crucem Tuam redemisti mundum, a Cruz de Cristo, que santifica e dá vitória, como a deu a Constantino – in hoc signo vinces, que cintila no azul do céu e rebrilha nas dobras de nossa bandeira, a Bandeira do Brasil. Do outro lado acham-se a foice, que decepa cabeças, e o martelo, que as esmaga. Ou o Brasil ou Moscou. O comunismo está infiltrado em todas as camadas da vida social. Há comunistas por toda a parte, de todas as idades e condições, políticos e não políticos, não sendo poupada para sua infiltração, nem mesmo a Túnica Inconsútil, que, aliás, foi respeitada no Calvário, onde não se atreveram a dividi-la os carrascos de Cristo Senhor Nosso”.

Participou, porém, apenas da Primeira Sessão do Concílio, voltando logo para Bragança Paulista.

Em 1967, o Papa Paulo VI nomeou um Administrador Apostólico para governar a Diocese.

Faleceu no Palácio Episcopal de Bragança Paulista, às 2 horas do dia 24 de novembro de 1969, aos 84 anos de idade, 61 de sacerdócio e 50 de episcopado. Está sepultado na Cripta da Catedral de Bragança Paulista.

N’O Estado de S. Paulo, o jornalista Hélio Damante afirmou: “Somados os prós e contras, Dom Maurício emerge como homem fora de seu tempo, fiel, porém, a tudo aquilo em que cria e a que servia. Seus 42 anos à frente da Diocese de Bragança estão marcados por muitas realizações que farão seu nome lembrado com gratidão… Pode-se dizer que morre com ele uma época da Igreja, da qual foi autêntico representante. Outra já começou, porque a Igreja é eterna”.

Pediu para ser sepultado com os paramentos róseos usados nos domingos Gaudete e Laetare, e para que a missa exequial fosse celebrada em latim. Altas autoridades civis, militares e eclesiásticas e mais de três mil pessoas compareceram ao seu funeral. As exéquias foram oficiadas por Dom Antonio Maria Alves de Siqueira, Arcebispo de Campinas, que na oração fúnebre exclamou: “Deus o guarde. São pequenas as coisas desta vida. Ele era o servo de Deus fiel. Temos fé de que será bem recompensado”.


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