terça-feira, 31 de maio de 2022

URBANISMO E ARQUITETURA COMO ARMAS CONCENTRACIONÁRIAS

 

A arquitetura moderna adultera a própria concepção de moradia

por Cunha Alvarenga
Publicado na Revista Catolicismo nº 29, em maio de 1953


Que pode haver de comum entre a arquitetura moderna e as ideologias extremistas? Como consegue um urbanista, no puro domínio da técnica, concorrer para a realização dos planos da subversão socialista? Eis a reflexão que deve ter ocorrido a muita gente ao ler o seguinte telegrama publicado no decorrer do mês de março pela imprensa diária:

"Belo Horizonte, 16 (Meridional) — Especialmente convidado pela Congregação da Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, encontra-se nesta capital, há dias, o professor urbanista francês sr. Gaston Bardet, contratado pela direção daquele Instituto de ensino superior para proferir um curso de urbanismo com a duração de três meses. A aula inaugural foi realizada na manhã de hoje no salão da Escola de Arquitetura, contando a solenidade com a presença de todos os professores e alunos daquele Instituto e diversos arquitetos mineiros.

"A sessão, porém, que se prenunciava tranquila, foi aos poucos sendo tomada de viva agitação, oriunda do teor das considerações esposadas em sua dissertação pelo urbanista francês. Assim é que afirmou o prof. Gaston Bardet discordar total e integralmente da orientação que vem sendo dada no Brasil aos estudos ligados à arquitetura, com as inovações da chamada "corrente moderna". Teceu diversas críticas aos trabalhos executados em obediência aos princípios modernistas, lamentando que tal orientação tenha sido adotada em nosso país, pois segundo sublinhou, não passaria a nova técnica de "mera influência comunista" e em consequência condenável. Criticou ainda as concepções dos arquitetos brasileiros que a adotaram, não fazendo qualquer exceção. Finalmente, ao examinar a técnica de Le Corbusier, taxou-a de falha e pouco expressiva, não resolvendo o seu pensamento os problemas urbanísticos e arquitetônicos.

"As críticas do urbanista gaulês foram recebidas com diversas manifestações de desagrado e repulsa por parte dos assistentes, e ainda por diversos componentes da Congregação da Escola. Ao tomarem conhecimento da orientação que vinha sendo dada à aula inaugural, levantaram-se de suas cadeiras diversos professores da Escola, abandonando o recinto. Logo após, seguindo o exemplo, grande parte dos assistentes, em sua maioria universitários, abandonavam o salão. Os que permaneceram passaram a travar debates, alcançando os trabalhos, no final, confusão a custo contida pela mesa que dirigia a aula inaugural".

Quebra de continuidade histórica

É o Professor Gaston Bardet uma autoridade altamente credenciada para tratar do tema, pois além de Diretor de Estudos do Instituto Internacional de Urbanismo Aplicado de Bruxelas e Presidente de Honra da Sociedade Francesa de Urbanistas, é conhecido como autor de obras especializadas tais como "Problèmes d'Urbanisme", "Le Nouvel Urbanisme", etc.. Embora não conheçamos o inteiro teor de sua dissertação nessa tumultuosa aula inaugural, pelo contexto da noticia telegráfica somos inclinados a concluir que as amostras de reação e de intolerância com que foram recebidas suas palavras são um triste sinal de capitulação de uma parte de nossas elites universitárias, que se arreceia de enfrentar aqueles que se apresentam como os donos, em graus de monopólio, do "moderno" e do "avançado". E é tão feio, para quem usa óculos "rayban" e está em dia com Sartre, passar por conservador e atrasado...

Para que possamos compreender o que realmente se passa em torno deste assunto, necessário se torna que dele procuremos ter uma visão panorâmica, enquadrando o urbanismo e a arquitetura dentro da revolução artística que se processa no mundo moderno. Esta, por sua vez, não se explica por si mesma. Dela vamos encontrar a chave na revolução religiosa, política, social e econômica que se espalha pela terra como aquela fumaça letal que sai dos poços do abismo. Voltaremos ao assunto sob este ponto de vista geral. Hoje dele apenas nos ocuparemos na medida que se fizer indispensável para a compreensão do que vem acontecendo no campo do urbanismo e da arquitetura.

A revolução universal se apresenta sob dois aspectos principais: o da destruição e o da construção. Satânica, panteísta, por isso que seu ideal é a despersonalização do homem ela pretere agir sobre os grandes corpos coletivos, sobre as organizações sociais, em que a pessoa humana abdica de suas prerrogativas diante da excitação gregária que avassala os próprios cristãos, esse desregramento, essa exacerbação do nós, como acentua Frank-Duquesne (1), sob pretexto de reduzir à modéstia o Eu, o totalitarismo sob todas as suas formas, a tirania do número, "a recusa do recolhimento, a fuga diante da oração, a Liturgia transformada em encantamento coletivo, os divertimentos populares que regridem ao sabath", em resumo, tudo aquilo que arranca o indivíduo à "mão de seu conselho" (Eccl. 15, 14) e o lança na impulsividade, na instabilidade, na irritabilidade da massa amorfa e mecânica.

Em sua alocução da Vigília do Natal de 1952, dizia o Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, ser "um principio claro de sabedoria que todo progresso só o é verdadeiramente se unir as conquistas novas as antigas, os bens novos aos adquiridos no passado, em suma se sabe aproveitar-se da experiência". Ora, no setor artístico vemos não somente a tendência à negação da personalidade, mas também a idéia fixa da quebra da continuidade histórica, o completo cortar das amarras com o passado, sob capa de destruição da apregoada civilização burguesa. A essa preocupação doentia de destruir a atual ordem de coisas, tarefa que se delineia bem clara aos nossos olhos, também corresponde um esforço de construção de novos padrões artísticos que ainda permanecem em certa obscuridade.

"Os edifícios que entrevemos, dizia o arquiteto futurista Antonio Sant'Elia, terão sua razão de ser unicamente nas condições especiais da vida moderna, e derivarão seu valor estético de sua concordância com a nossa moderna sensibilidade. Esta arquitetura não pode se sujeitar a nenhuma lei de continuidade histórica. Deve ser nova como novo é o nosso estado de espírito".

Obliteração da individualidade

Que estado de espírito será esse? Um dos objetivos principais do espírito revolucionário no campo da estética é a obliteração da individualidade, a negação da personalidade. Neo-gnósticos, foram buscar nos filósofos yoga, juntamente com a negação do livre arbítrio, a afirmação de que sonho e realidade são semelhantes e semelhantemente irreais. Daí viverem, por exemplo, os surrealistas às bordas da loucura. Propuseram-se, como programa, destruir todo o enorme edifício construído pela lógica ocidental. A realidade seria o mundo como é visto pela mente ilógica e irracional de uma criança, pelo automatismo de um médium espírita, de um mágico, de um louco, de um selvagem. "Lógica, ordem, verdade, razão, consignamos tudo isto ao oblívio [delírio] da morte", anunciou um manifesto surrealista. É o que se vê na obra de um Kandinsky, de um Klee, de um Chirico. Revolucionários no setor da arte como Ernest e Dali completam a desintegração, iniciada por Picasso e Breque, do conceito acadêmico da realidade, diz o Prof. Herbert Read, aquela mesma autoridade em arte moderna que afirma que Picasso pinta em estado de transe (Ver CATOLICISMO n.° 21).

Mas o surrealismo e escolas congêneres são apenas uma arte negativa e têm, portanto, um papel meramente temporário e destruidor. São uma arte de período de transição. "A arte abstrata, pelo contrário, tem uma função positiva. Conserva invioláveis as qualidades universais da arte, até o tempo em que a sociedade esteja pronta para usá-las — aqueles elementos que sobrevivem a todas as mudanças e revoluções. Pode-se dizer que como tal é meramente arte em conserva — uma atividade divorciada da realidade, sem interesse imediato para o revolucionário" (2). Há, entretanto, um setor em que essa arte revolucionária do futuro não se acha em conserva, mas já atua. Que setor será esse? O da arquitetura e da arte industrial. "Na realidade, continua o prof. Read, tal arte não se acha em conserva tanto quanto pode parecer. Pois em uma esfera, na arquitetura e de certo modo na arte industrial, ela já se acha em ação social. Ali encontramos o elo essencial entre o movimento abstrato na pintura moderna e o mais avançado movimento na arquitetura moderna — a arquitetura de Gropius, de Markelius, de Lloyd Wright, de Aalto, de Le Corbusier... Não é meramente uma similaridade de forma e intenção, mas uma verdadeira e íntima associação de personalidades" (3).

A arte da sociedade sem classes

Este único elo, prossegue o prof. Read, indica o caminho para a arte do futuro — a arte de uma sociedade sem classes. É impossível predizer todas as formas desta arte, e serão necessários muitos anos até que ela atinja sua maturidade".

A arquitetura moderna seria usada para despersonalizar o homem e rebaixá-lo ao conglomerado da horda, como faz a arte moderna. Aliás os arquitetos e artistas da escola modernista constituem uma só única corrente, como é fácil verificar, por exemplo, pela vida de um Le Corbusier. E costumam trabalhar de parceria, como Niemeyer e Portinari.

Em 1911 Kandinsky e os expressionistas apareceram no campo da arquitetura com seu ocultismo cósmico. Na Alemanha se achava a principal base de ação desses inovadores. É patente a influência da doutrinadora teosofista Madame Blavatsky e de Rudolf Steiner nessa nascente arquitetura moderna. Steiner desenvolveu a idéia de uma arquitetura inspirada no cósmico-astral. Entre os elementos dessa arquitetura ocultista estava um método de proporção por meio da "geometria astral". "O corpo astral, dizia Steiner, é um geômetra acabado". A teoria de Steiner sobre a arquitetura astral se tornou parte do expressionismo alemão e seus efeitos podem ser notados no trabalho dos arquitetos expressionistas Hans Poelzig e Eric Mendelsohn (4).

Onde fica mais explicitada essa tendência ocultista da arte moderna é justamente na obra dos expressionistas alemães, pois os cubistas franceses e italianos tomaram precauções especiais para esconder o fato de que suas doutrinas se achavam profundamente influenciadas pelas obsessões ocultistas de um Max Jacob ou de um Apollinaire. Assim é que tanto os futuristas quanto os cubistas alegavam que sua inspiração geométrica decorria de um importante principio estético desenvolvido pelo pintor impressionista Cézanne: "Deveis ver na natureza o cilindro, a esfera, o cone". Na realidade, estes símbolos representam um papel muito saliente nas doutrinas teosóficas e ocultistas de Madame Blavatsky, a verdadeira inspiradora da arte moderna, quer na parte figurativa, como na não figurativa ou abstracionista.

Estandardização totalitária

HANS POELZIG havia começado por basear suas formas arquitetônicas nos depósitos de cereais e nos silos da América do Norte, elementos considerados o supra-sumo da nova era técnica e industrial. Passando, porém, para os ensinamentos ocultistas do expressionismo, seus edifícios tomaram um aspecto barroco-ectoplásmico. O ectoplasma dos fenômenos metapsíquicos é que explica o uso e abuso dos contornos amebóides da arquitetura moderna. A coisa não se explica, portanto, como um simples protesto contra as formas clássicas ou contra toda e qualquer forma. Seriam esses contornos o equivalente arquitetônico do ectoplasma ou das emanações ou fluidos de um médium que produziriam o movimento em objetos à distância sem contato físico.

Segundo os cânones da arquitetura moderna, a individualidade do arquiteto e do habitante ou morador não deve aparecer nos edifícios, seja por fora, seja por dentro deles. A arquitetura deveria se tornar cada vez mais abstrata. A casa seria reduzida a uma "máquina de morar", como queriam os hoje repudiados futuristas e fascistas e como ainda a concebem os homens da corrente Le Corbusier. E foi esse mesmo Le Corbusier que lá pelas alturas de 1920 lançou um "estilo internacional" em arquitetura, réplica moderna da revolução que o classicismo greco-romano artificialmente provocou na Renascença e que marca o início da decadência cultural do mundo moderno. Daí a mesmice, a generalização de idênticos padrões arquitetônicos pelo mundo inteiro, precedendo a uniformização, a padronização do regime político, ou a proletarização universal.

Eliminam-se todos os elementos decorativos na preocupação de seguir à risca a chamada arquitetura funcional, como se o belo também não exercesse uma função de elevação espiritual na vida humana. Padronizam-se portas e janelas, como se padronizam os próprios elementos arquitetônicos. E essa repetição monótona também faz parte do anonimato da casa e de seus moradores, mas não é feita unicamente em holocausto à deusa eficiência e à preocupação exclusivamente utilitária. Esse sistema de estandardização e de repetição monótona levado ao campo psicológico se destina principalmente a produzir a conformidade do sentir da massa em relação à arquitetura e à arte moderna. Tem uma função embrutecedora e hipnótica, como o demonstra o professor Gaston Bardet, baseado nas experiências de Pavlov sobre os reflexos condicionados (5). Os arquitetos modernos confundem ritmo com repetição, o que representa absurdo semelhante ao de confundir esses mesmos elementos na música. Ninguém confunde música com barulho (a não ser os que levam a revolução também ao setor musical): do mesmo modo, diz o prof. Bardet, não se deve confundir arquitetura com indústria.

Os problemas da urbanização contemporânea

Essa mesma mentalidade concentracionária é levada ao campo do urbanismo. Surge o problema moderno dos grandes conjuntos urbanísticos em torno de um centro de interesse: uma indústria, um aeroporto, uma universidade. Verdadeiras cidades aparecem por assim dizer da noite para o dia. Esses grandes conjuntos urbanísticos não vão crescendo lentamente, na medida do despertar das necessidades sociais, como no passado. Os arquitetos e urbanistas de hoje dispõem de meios técnicos para resolver em escala desmesurada e em velocidade vertiginosa o que antigamente seria obra de várias gerações.

Sobre as imposições da técnica deveriam ter precedendo as finalidades principais desses conjuntos, que seriam servir o homem e lhe dar ambiente próprio para desenvolver sua personalidade. Mas o espírito totalitário é o completo avesso do espírito de variedade. Como visa à despersonalização do homem, tende coerentemente a destruir aquilo que lhe empresta as características pessoais. Todas as armas são empregadas para realizar esse coletivismo despersonalizador: os monstruosos conjuntos industriais concentracionários, as estruturas urbanas concentracionárias, os mecanismos econômicos e financeiros concentracionários. Se se tem em vista construir um palácio para sede da ONU, ou uma sede de ministério da educação, ou um hospital, ou um conjunto residencial, a arquitetura moderna só tem uma solução: um imenso caixão, com imensas paredes nuas ou cortadas monotonamente por janelas ou "brise-soleil" estandardizados, em uma pobreza de elementos que desafia a falta de imaginação de um hotentote.

Se por acaso são forçados à elaboração de um plano de conjunto residencial com casas isoladas, estas se repetem iguaizinhas umas às outras, com uma uniformidade de caserna ou de penitenciaria.

E é neste capítulo da casa que queremos nos referir de modo particular ao fenômeno Le Corbusier e à sua discutida "Unidade de Habitação" de Marselha. Diz o jornal católico francês "L'homme nouveau": "Será seu projeto, como pretendem alguns, um escândalo inadmissível no plano da família, uma tentativa de coletivização da sociedade? Não o cremos, porque à sua revelia, sem dúvida, o homem social de Le Corbusier permanece ainda impregnado de cristianismo. Consciente ou inconscientemente é ainda uma célula cristã que sua técnica laica nos propõe" (6).

Quais os argumentos invocados por esse jornal a favor dessas habitações coletivas e para batizar o laicismo de Le Corbusier? Cingem-se eles ao muito conhecido conformismo que leva certos católicos a aceitar tudo, menos a solução católica para os nossos problemas. Neste caso particular do problema da habitação, aceitam-se como fato consumado: as concentrações urbanas, o proletariado industrial, a especulação econômica levada às explorações imobiliárias.

Deturpação do conceito de moradia

Como argumento caricatura contra a casa individual, cita "L'homme nouveau" o exemplo de Los Angeles, "aglomeração de 65 quilômetros de comprimento por 30 quilômetros de largura". Como se não estivéssemos na época do automóvel e dos meios ultra-rápidos de transporte, e como se Los Angeles não se achasse na terra da mecanização da vida, que é a America do Norte! Tratar-se-ia, segundo "L'homme nouveau", de "humanizar" a habitação coletiva. A rua é barulhenta e perigosa. Fujamos dela. "A técnica moderna nos permite elevar os imóveis a grandes alturas. Aproveitemo-nos desse fato. E em vez de construir na testada das ruas, criando no fundo das casas becos, poços insalubres, fujamos da rua! Deixemos-lhe assegurada a função de circulação mecânica e criemos ilhas de verdura livres de automóveis, onde as crianças possam brincar sem perigo" (7).

E assim, com a cumplicidade de certa opinião católica, a própria concepção da moradia é adulterada por esses preparadores da "nova ordem" totalitária: a casa passou a ser considerada, não como o ambiente favorável ao pleno desenvolvimento moral da família, mas como um "serviço de utilidade pública" em igualdade de condições com o serviço de água, de esgoto, de transportes, etc. Daí a tendência à construção desses grandes conjuntos residenciais para aluguel, sob a égide do Estado, muitas vezes sob o eufemismo de certos órgãos autárquicos, em um sistema de convivência social forçada, com peças coletivas em comum, com jardins em comum, com play-grounds, piscinas, cantinas, enfim todo um tumultuar satânico de atrações que invade a vida familiar e afugenta a tranquilidade do lar, transformando-o em um mero lugar transitório para o descanso noturno e eventualmente para refeições entre uma solicitação exterior e outra. A intenção clara e patente é que não mais seja ao ambiente familiar que caiba a obra de plasmar os homens, mas a esses pontos de atração coletiva, feitos à imagem e semelhança dos criadores desses ambientes onde reina a promiscuidade.

Estamos diante do "demônio da organização", da preocupação de construir a vida social à feição de uma gigantesca máquina industrial, em que tudo gravita em torno de ciclópicos organismos de caráter impessoal.

Os muros de Babilônia

O mal tem raízes bem profundas, como acabamos de ver, e para ele não encontraremos remédio com o simples piscar de sua cauda. E aos que de boa fé possam dizer que a empresa industrial gigantesca, ou os babilônicos conjuntos residenciais, ou as grandes propriedades são um imperativo de nossa época, pelos progressos da técnica, que impediriam a ordenação descentralizada, diversificada e orgânica da vida social e econômica, com a coexistência da grande, da média e da pequena propriedade, respondamos com Pio XII: "Nem se diga que o progresso técnico se opõe a tal regime e arrasta em sua corrente irresistível toda atividade no sentido de propriedades e organizações gigantescas, diante das quais um sistema social fundado sobre a propriedade individual deve inelutavelmente ruir. Não: o progresso técnico não determina, como um fato inevitável e necessário, a vida econômica. Ele, até por demais frequentemente, se submeteu docilmente às exigências de cálculos egoísticos, ávidos de acrescentar indefinidamente os capitais; por que, pois, não se submeteria também à necessidade de manter e assegurar a propriedade particular de todos, pedra angular da ordem social? Também o progresso técnico, como fato social, não deve prevalecer sobre bem geral, mas, pelo contrário, deve ser a este ordenado e subordinado" (8).

Não será a magnitude do problema que nos fará recuar diante de sua solução. Como os antigos israelitas escravizados dentro dos muros de Babilônia, suspiremos e rezemos pelo dia de nossa redenção. E essa liberdade de filhos de Deus a que aspiramos não nos será concedida pelos conjurados da revolução totalitária no campo religioso, político, econômico e artístico, mas pela sincera adesão aos principies emanados da Cátedra da Verdade, que, como fermento, aí estão à nossa espera para levedar toda a massa.


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Notas

(1) Albert Frank-Duquesne: "Réflexions sur Satan en marge de la tradition Judéo-Chrétienne".

(2) Herbert Read : "The Politics of the Unpolitical".

(3) Idem.

(4) Ver, por exemplo, o que diz Robsjohn-Gibbings em "Mona Lisa's Mustache".

(5) Gaston Bardet: "De l ‘Urbanisme à l'Architecture", em "L'Architecture Française", n.° 101-102.

(6) "Le Cas Le Corbusier — Les techniques d'urbanisme face aux exigences de la Foi", em "L'homme nouveau" de 7-12-1952.

(7) Idem.

(8) Rádio mensagem de 1° de setembro de 1944.


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Fonte: Revista Catolicismo - Parte 1 e Parte 2 



Fotografia: Ville Radieuse (Cidade Radiante) foi um plano urbano não construído de Le Corbusier, apresentado pela primeira vez em 1924 e publicado no livro homônimo em 1933. 


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